domingo, 6 de dezembro de 2009

Você sabe com quem está falando?


Minha grande amiga Lu me apresentou um dos novos pensadores brazucas: Mario Segio Cortella, filósofo, mestre e doutor em Educação pela PUC-SP, onde é professor do Departamento de Teologia e Ciências da Religião e da Pós-Graduação em Educação. Me mostrou um artigo de seu último livro "Qual é a tua obra? Inquietações propositivas sobre gestão, liderança e ética.", de 2007. O título do artigo é "E tem gente que se acha", que eu achei simplesmente ótimo pela síntese das últimas novidades sobre a concepção do universo e o nosso papel no mesmo. Depois de lê-lo, não consigo dissociar a pergunta do título deste post com a resposta: Você tem tempo?
Boa semana a todos!

"Quando se pensa e se faz trabalho como obra poética em vez de sofrimento contumaz, sempre vem à mente a questão do “trabalho digno”, isto é, aqueles ou aquelas que se consideram superiores como seres humanos apenas porque tem um emprego socialmente mais valorizado.
Aliás, é sempre nesses casos que entra em cena o famoso “sabe com quem você está falando?”
Um dia procurei representar uma possível resposta científica a essa arrogante pergunta e, de forma sintética, registrei essa representação em um livro meu chamado A escola e o conhecimento (Cortez); agora, de forma mais extensa e coloquial, aqui vai esse relato, partindo do nosso lugar maior, o universo, até chegar até nós.
Hoje, em física quântica, não se fala mais um universo, mas um multiverso. A suposição de que exista um único universo não tem mais lugar na Física. A ciência fala em multiverso e que estamos em um dos universos possíveis. Este tem provavelmente o formato cilíndrico, em função da curvatura do espaço, portanto, ele é finito e tem porta de saída, que são os buracos negros, por onde ele vai minando e se esvaziando. Até 2002, era quase certo que o nosso universo fosse cilíndrico, hoje já há alguma suspeita de que talvez não. Mas a teoria ainda não foi derrubada em sua totalidade. Supõe-se que este universo possível em que estamos apareceu há 15 bilhões de anos. Alguns falam em 13 bilhões, outros em 18, mas a hipótese menos implausível no momento é que estamos num universo que apareceu há 15 bilhões de anos, resultante de uma grande explosão, que o cientista inglês Fred Hoyle apelidou de big-bang, e esse nome pegou.
Qual é a lógica? Há 15 bilhões de anos, é como se se pegasse uma mola e fosse apertando, apertando até o limite, e se amarrasse com uma cordinha. Imagine o que tem ali de matéria concentrada e energia retida! Supostamente, nesse período, todo nosso universo estava em um único ponto adensado, como uma mola apertada e, então, alguém, alguma força – Deus, não sei, aqui a discussão é de outra natureza – cortou a cordinha. E aí, essa mola, o nosso universo, está em expansão até hoje. E haverá um momento em que ele chegará ao máximo da elasticidade e irá encolher outra vez. A ciência já calculou que o encolhimento acontecerá em 12 bilhões de anos. Fique tranqüilo, até lá você já estará aposentado pelas novas regras.
Você pode cogitar algo que a Física tem como teoria: ele vai encolher e se expandir outra vez. Talvez haja uma lei do universo em que o movimento da vida é expansão e encolhimento. Como é o nosso pulmão, como bate o nosso coração, com sístole e diástole. Como é o movimento do nosso sexo, que se expande e encolhe, seja o masculino seja o feminino. Parece que existe uma lógica nisso, que os orientais, especialmente os chineses e os indianos, capturaram em suas religiões, aquela coisa do inspirar e expirar. Parece haver uma lógica nisso, a ciência tem isso como hipótese.
Assim, há 15 bilhões de anos, houve uma grande explosão atômica, que gerou uma aceleração inacreditável de matéria e liberação de energia. Essa matéria se agregou formando o que nós, humanos, chamamos de estrelas e elas se juntaram, formando o que chamamos de galáxias (do grego galaktos , leite). A ciência calcula que existam em nosso universo aproximadamente 200 bilhões de Galáxias. Uma delas é a nossa, a Via Láctea, que é “leite”, em latim. Aliás, nem é uma galáxia tão grande; calcula-se que ela tenha cerca de 100 bilhões de estrelas. Portanto, estamos em uma galáxia, que é uma entre 200 bilhões de galáxias, num dos universos possíveis e que vai desaparecer.
Nessa nossa galáxia, repleta de estrelas, uma delas é o que agora chamam de estrela-anã, o Sol. Em volta dessa estrelinha giram algumas massas planetárias sem luz própria, nove ao todo, talvez oito (pela polêmica classificação em debate). A terceira delas, a partir do Sol, é a Terra. O que é a Terra?
A Terra é um planetinha que gira em torno de uma estrelinha, que é uma entre 100 bilhões de estrelas que compõem uma galáxia, que é uma entre outras 200 bilhões de galáxias num dos universos possíveis e que vai desaparecer. Veja como nós somos importantes…
Aliás, veja como nós temos razão de nos termos considerado na história o centro do universo. Tem gente que é tão humilde que acha que Deus fez tudo isso só para nós existirmos aqui. Isso é que é um Deus que entende da relação custo-benefício. Tem indivíduo que acha coisa pior, que Deus fez tudo isso só para esta pessoa existir. Com o dinheiro que carrega, com a cor da pele que tem, com a escola que freqüentou, com o sotaque que usa, com a religião que pratica.
Nesse lugarzinho tem uma coisa chamada vida. A ciência calcula que em nosso planeta haja mais de trinta milhões de espécie de vida, mas até agora só classificou por volta de três milhões de espécies. Uma delas é o homo sapiens. Que é uma entre três milhões de espécies já classificadas, que vive num planetinha que gira em torno de uma estrelinha, que é uma entre 100 bilhões de estrelas que compõem uma galáxia, que é uma entre outras 200 bilhões de galáxias num dos universos possíveis e que vai desaparecer?
Essa espécie tem [tinha], em 2007, aproximadamente 6,4 bilhões de indivíduos. Um deles é você.
Você é um entre 6,4 bilhões de indivíduos, pertencente a uma única espécie, entre outras três milhões de espécies já classificadas, que vive num planetinha, que gira em torno de uma estrelinha, que é uma entre 100 bilhões de estrelas que compõem uma galáxia, que é uma entre outras 200 bilhões de galáxias num dos universos possíveis e que vai desaparecer.
É por isso que todas as vezes na vida que alguém pergunta:”Você sabe com quem está falando?”, eu respondo: “Você tem tempo?”"
CORTELLA, Mario Sergio. Qual é a tua obra? Inquietações propositivas sobre gestão, liderança e ética. Petrópolis:Vozes, 2007, p. 23-27

sábado, 17 de outubro de 2009

MANIFESTO CONTRA O PROJETO QUE LIBERA A COMERCIALIZAÇÃO DE VEÍCULOS DE PASSEIO MOVIDOS A DIESEL

O Movimento Nossa São Paulo convida você a se manifestar contra o Projeto de Lei do Senado 656/2007, que libera a comercialização de veículos de passeio movidos a diesel no Brasil. Atualmente, o uso do combustível apenas em veículos pesados e utilitários é suficiente para matar 6 pessoas por dia, somente na capital paulista, e gerar custos de R$ 82,6 milhões com internações hospitalares pelo Sistema Único de Saúde (SUS), na Região Metropolitana de São Paulo. Não se trata simplesmente de uma manifestação contrária ao carro a diesel , mas, a favor da preservação ambiental e da saúde pública. Pois o projeto incentiva o uso do diesel de péssima qualidade disponível no país, além de permitir a ampliação da matriz energética proveniente do petróleo, para a qual já há alternativas menos nocivas à saúde das pessoas e do planeta, como o álcool, entre outras que encontram-se em desenvolvimento.

O projeto do senador Gerson Camata (PMDB-ES), que altera o art. 8º da Lei nº 9.478, de 6 de agosto de 1997, foi aprovado no dia 5 de agosto passado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado. O texto está sendo avaliado agora pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), em caráter terminativo. Caso não haja nenhum recurso contrário por parte dos senadores, o projeto irá para a Câmara, sem necessidade de ser votado no plenário do senado. Se os deputados aprovarem, a lei irá para sanção presidencial. O presidente da Comissão, Senador Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), designou o Senador Delcídio Amaral (PT-MS) para ser relator da matéria.

Para evitar mais mortes e internações, e também o aumento de emissões de gases que causam o aquecimento global, é importante que a sociedade se manifeste contrária ao projeto o mais rápido possível, enviando e-mail para os senadores, em especial ao relator do projeto – Senador Delcídio Amaral e também aos deputados federais. Anexos os e-mails dos senadores e deputados federais. Repasse também esta mensagem para sua rede de relacionamento. Veja também o anexo do histórico da tramitação do projeto. Segue abaixo a sugestão de carta aos senadores e deputados federais e links para outros documentos.

Sugestão de texto aos Senadores(as) e Deputados(as) Federais

Prezado(a) Senador(a) / Prezado(a) Deputado(a)

Solicito o seu apoio no sentido de se manifestar contrário à aprovação do Projeto de Lei do Senado 656/2007, que altera o artigo 8º da Lei 9.478, de 6 de agosto de 1997, para permitir a comercialização de veículos de passeio movidos a diesel

Se o referido projeto for realmente aprovado, a indústria automobilística ganhará o aval para incentivar o consumo do combustível que, sozinho, é responsável pela morte de pelo menos 6 pessoas todos os dias somente na cidade de São Paulo. A informação é da Faculdade de Medicina da USP, que vem alertando insistentemente para os perigos do ar contaminado para a saúde da população. Além disso, de acordo com o Dr. Paulo Saldiva, líder da equipe de pesquisadores da Faculdade de Medicina, o custo anual gerado pelas internações hospitalares decorrentes da poluição veicular para o Sistema Único de Saúde (SUS) é de R$ 82.627.646,00 somente na Região Metropolitana de São Paulo. Se somarmos o total das regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre e Recife as despesas chegam a R$ 129.497.569,00. Estima-se ainda que, levando em conta a perda de expectativa de vida, os custos ao ano na cidade de São Paulo são de US$ 208.884.940,00. Cerca de 40% deste custo é devido ao diesel.

Enquanto a grande maioria dos países no mundo busca alternativas para “descarbonizar” os combustíveis com o propósito de mitigar a emissão dos gases responsáveis pelo aquecimento global, o projeto de lei aponta para o outro lado, representando um retrocesso inexplicável.

Agradeço antecipadamente o seu empenho, em favor da vida e do bem-estar do povo brasileiro.

Atenciosamente,

[Nome da pessoa física e/ou organização]

Links para alguns documentos:

Lei 9.478, de 6 de agosto de 1977

http://www.aneel.gov.br/cedoc/blei19979478.pdf

Projeto de Lei do Senado 656/2007, que altera o artigo 8º da Lei 9.478, de 6 de agosto de 1997, para permitir a comercialização de veículos de passeio movido a diesel

http://legis.senado.gov.br/mate-pdf/11797.pdf


Íntegra da carta aberta enviada no dia 22 de setembro (Dia Mundial Sem Carro) ao Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Senadores e Ministros. A carta foi assinada pelas organizações Amigos da Terra – Amazônia Brasileira, Greenpeace, Instituto Akatu, Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor – IDEC, Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, Movimento Nossa São Paulo, SOS Mata Atlântica e a Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente de São Paulo.

http://www.nossasaopaulo.org.br/portal/arquivos/cartaLulaSenadores.pdf

Cordialmente,

Movimento Nossa São Paulo

domingo, 11 de outubro de 2009

MST e Cutrale - Comentando a Semana

As pressões sociais continuam subindo. Ainda mais num mundo onde, ha 2.000 anos atrás (ano zero, nascimento de Cristo aproximadamente) eramos apenas 3% da população atual (vide Contador de pessoas instalado aqui no canto direito do blog).
Mas algumas são tão deturpadas pela velocidade fantástica de nossas notícias, que somos obrigados a ver as versões possíveis da notícia e sair com a enésima, ou seja, a nossa versão. Que numa democracia significa uma enésima parte das razões que nos levam a votar em alguém, multiplicadas por um fator de passionabilidade determinado apenas por nossos corações.
Então, vou dar a MINHA visão resumida do fato desta semana:
O Fato pela Mídia: (G1.com.br)
Cerca de 250 famílias do Movimento dos Sem-Terra permanecem nesta terça-feira (6) em uma fazenda produtora de laranjas em Borebi, a 309 km de São Paulo. No local, os manifestantes destruíram a plantação com um trator. Mais de 5 mil pés de laranja foram destruídos.

As famílias querem forçar a desapropriação da área. A sede foi tomada pelos sem-terra, que fecharam a entrada e picharam a portaria.

Havia uma reintegração de posse determinada por um juiz local, mas ele voltou atrás e disse que o caso é de competência federal. A Justiça Federal ainda não se pronunciou. Os sem-terra continuam ocupando a fazenda e vão permanecer na área enquanto não sair a decisão da Justiça Federal.

Segundo o MST:(http://diariogauche.blogspot.com/2009/10/mst-nao-nos-julguem-pela-versao.html)
3. Também ocupamos as fazendas que têm origem na grilagem de terras públicas, como acontece, por exemplo, no Pontal do Paranapanema e em Iaras (empresa Cutrale), no Pará (Banco Opportunity) e no sul da Bahia (Veracel/Stora Enso). São áreas que pertencem à União e estão indevidamente apropriadas por grandes empresas, enquanto se alega que há falta de terras para assentar trabalhadores rurais sem terras.

4. Os inimigos da Reforma Agrária querem transformar os episódios que aconteceram na fazenda grilada pela Cutrale para criminalizar o MST, os movimentos sociais, impedir a Reforma Agrária e proteger os interesses do agronegócio e dos que controlam a terra.

Segundo o INCRA: http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u636365.shtml

O superintendente do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) em São Paulo, Raimundo Pires Silva, disse ontem que estão irregularmente em terras da União todos os proprietários e empresas com fazendas no antigo Núcleo de Colonização Monções.

A área, de 50 mil hectares, fica no centro-oeste do Estado, entre os municípios de Iaras, Borebi, Agudos, Lençóis Paulistas e Águas de Santa Bárbara.

Ali está a fazenda de 2.400 hectares da Cutrale invadida pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) na semana passada. Os sem-terra ficaram no local por dez dias, derrubaram pés de laranja e depredaram tratores, caminhões e imóveis da sede.

Segundo Silva, a região onde fica a fazenda foi comprada pela União em 1909 para instalar colonos. O projeto não vingou, e as áreas ficaram desocupadas, levando a um processo de ocupação irregular. O superintendente diz que o Incra, em 2003, foi condenado pela Justiça a implantar assentamentos no local. A partir daí foi feito um levantamento para identificar o histórico das terras. Os atuais ocupantes foram informados sobre a titularidade irregular.

"É um patrimônio público, pertence ao povo", disse Silva. Segundo ele, não foram verificados casos de falsificação de documentos e grilagem: as ocupações foram feitas de "boa-fé".

O Incra afirma que tentou acordo com as empresas. A Lwarcel Celulose reconheceu que sua terra era da União, propôs ficar ali e, em troca, deu ao órgão uma área em outra região. As empresas que chegaram a acordos são as únicas regularizadas, juntamente com descendentes dos antigos colonos do núcleo, segundo o Incra.

Na Justiça, há 50 processos questionando a posse das terras --entre eles o da Cutrale. Uma decisão da Justiça Federal entendeu que o órgão não tinha direito de reclamar a terra da multinacional, mas ainda não julgou se a propriedade é mesmo pública. O Incra recorreu.


Segundo a Cutrale: http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u636365.shtml
O diretor de relações institucionais da Cutrale, Carlos Otero, não quis polemizar: "Nosso foco agora é recuperar o que foi destruído." Ele descartou firmar um acordo com o Incra. Diz que a a Cutrale "é dona" da área e tem documentos.

Segundo eu mesmo, julgando e sentenciando:

1 - Cana para os mandantes da invasão de um espaço que, mesmo que venha a ser considerado da União, está produzindo divisas para a nação, empregos na colheita, na industrialização, na construção de máquinas agrícolas, na idústria de fertilizantes, na fábrica de óleos essenciais no Rio Grande do Norte, no escritório de várias empresas que comercializam derivados, nas Universidades que estão estudando os benefícios do D-Limoneno proveniente da Cutrale, enfim, uma cadeia de custódia interessante e muito maior que a puxada do Brasil Agrícola dos anos 60 com pouca tecnologia instalada.
2 - Para o Sr Raimundo Pires Silva, quer aparecer, pendure uma melancia no pescoço, como se dizia antigamente. Ou melhor, não brade em nome da justiça, algo que o INCRA resolveu investigar sobre 1909 em 2003. Porque não se aproveita e se divulgam (se é que se sabem) TODAS as maracutaias que se desenvolveram em 100 anos? Estamos falando de uma projeto de governo público que se deu em 1909? Quando o Afonso Pena ou Nilo Peçanha eram presidentes? E os escandalos agropecuários do nosso atual Renan Canalheiros? Será que estamos tão imaculados a ponto de revisitar nossa história dessa maneira e julgar 100 anos depois? Ao indivíduo, não se dá usucapião depois de 5 anos?
3 - Para a Cutrale, podem mostrar-nos os documentos que dão o direito a exploração destas terras?

sábado, 10 de outubro de 2009

The Fun Theory

Vivo pregando por aí: a realidade é uma só... as opções de encará-la é que são múltiplas. Encarar dificuldades de maneira apreensiva, com medo, estressado, desconfiado, certamente não possibilita que nossas maiores capacidades humanas sejam atingidas em prol de resolução dos nossos problemas diários. Então, nada como encarar tudo com sorriso, contando até 10... até 100 se for preciso. Porque as pessoas são muito mais abertas a uma atitude positiva que alguém com cara marruda. É um efeito em casacata. E assim criam se ambientes saudáveis... não aqueles climas tóxicos comuns onde as pessoas guardam seus interesses individuais e os mascaram por trás de cada ação.
Pra mostrar que a realidade pode sempre ser encarada de outra maneira e que as pessoas se contagiam toda a vez que o crú toma ares de sorriso, resolvi mostrar esta escada em Odenplan, Estocolmo.
A realidade é a mesma, só importa como a enxergamos e enfrentamos...

terça-feira, 28 de julho de 2009

Quedelhe a água?


A mais ou menos dois anos atrás, comecei a repensar de maneira profunda minha atividade profissional. Sentia uma necessidade de devolver à sociedade seu financiamento depositado através dos meus estudos de Engenharia Química numa Universidade Pública. E comecei a pensar em que segmentos meu conhecimento e habilidades teriam alguma relevância. Desse dia, saíram minhas áreas de interesse em atuar. E coloquei em primeiro lugar, num ranking de três, a área de conhecimento e recurso que a meu ver é o DNA da nossa diversidade.
Não é a toa que as pretensões de colonização extraterrestres da Nasa correm atrás da necessidade de uma constatação "vital": a existência de fontes de água, em qualquer estado físico. Esta pequena maravilha tri-atômica resultado da combinação de Oxigênio e Hidrogênio, carrega particularidades físico-químicas que permitem tecer a tênue linha da vida como ela é em nosso planeta. Seu comportamento anômalo, comparado a outras moléculas semelhantes como o sulfeto de Hidrogênio (H2S) da mesma família, permitiu fenômenos que foram altamente benéficos para o desenvolvimento da vida. Só pra citar um, o fato do gelo (seu estado sólido, só pra ressaltar) flutuar e não afundar, como seria de se prever por lógica, permitiu que durante a formação dos mares, uma capa protetora contra os raios ultravioletas viabilizasse o tempo e espaço para o desenvolvimento da vida no mar. Poderia ficar falando de várias e maravilhosas anomalias físico-químicas que permitiram o início de mecanismos de desenvolvimento na vida na Terra. Mas quero nesta resenha, dar um panorama rápido de como está nossa relação com este maravilhoso elemento.
Nossa dependência da água é transformada a aproximadamente 12.000 anos atrás, com a fixação do homem à terra, e início da agricultura. Em busca de alternativas energéticas, fomos obrigados, devido a uma seca de mais de 1.000 anos (Armas, Germes e Aço - Jared Diamond - 1997), a buscar outros alimentos que não oriundos da caça. O Homo sapiens começava de maneira sistemática a interferir na evolução genética dos seres vivos ao segregar e estimular o plantio de grãos que lhe traziam benefícios em sua dieta. O trigo e a cevada, presentes no Crescente Fértil, foram e ainda são os grãos que complementaram a nossa busca vitamínica e calórica. Criamos os pequenos e transformados ecossistemas que viriam a ser as pequenas plantações agrícolas e criadouros de suínos (M. Rosenberg - Un. Delaware). Em nossa iniciativa de domesticar plantas e animais, sentimos a óbvia necessidade de retirar do meio doses extras de água, acima da até então usada pra atender nossas necessidades metabólicas como indívíduos. Desde então até os dias de hoje, nosso consumo desse bem natural passou a ter um peso significativo no nosso meio de vida moderno. E está ligado intensamente à nossa produção de alimentos. Nossa distribuição de uso da água doce do planeta, segundo a ONU, é de 70% para a Agricultura, 20% para a Produção Industrial e 10% para consumo humano direto. E como já citei na minha outra resenha sobre a nossa sede energética que mantém nosso status moderno de civilização, há um novo concorrente nesta distribuição: a pressão dos biocombustíveis, na busca por fontes alternativas aos combustíveis fósseis.
Bom, não deveríamos preocuparnos, já que, apesar do nome por nós dado a este incrível planeta ser Terra, dois terços de sua superfície ser composta de água. Mas desses 1,6 bilhões de Km3, apenas 2,7% aproximadamente é água doce (OMS). Apenas 0,3% está disponível de maneira mais ou menos fácil pra uso, na forma de rios, lagos ou lençois subterrâneos de até 750 metros de profundidade. Com um forte agravante: estamos poluindo essa quantidade em tempos recordes. Nossa disponibilidade de água doce está diminuindo ao mesmo tempo que nossas necessidades por ela crescem exponencialmente junto à nossa explosão demográfica. O fenômeno do aquecimento global (independente do causador) traz mais uma incógnita a nossa capacidade de planejamento: mares inteiros de água doce estão neste momento evaporando e sendo carregados para longe de nossas expectativas de extração. Todo o ciclo hidrológico está vivendo um período de stress e as reservas estão sendo consumidas e não renovadas em suas fontes.
Segundo a OMS, dois quintos da população mundial não têm acesso ao saneamento básico, levando a epidemias em massa de doenças transmissíveis pela água. Metade dos leitos de hospitais do mundo está ocupada por pessoas com doenças propagadas pela água e de fácil prevenção segundo a própria entidade. A água contaminada é uma das causas de 80% de todas as enfermidades e doenças do mundo. Segundo Maude Barlow (Água, Pacto Azul, 2007, ed M Books, "na última década, o número de crianças mortas por diarréia ultrapassou o número de pessoas mortas em todos os conflitos armados DESDE a Segunda Guerra Mundial." A cada oito segundo, uma criança morre por beber água suja, e um bilhão de pessoas não tem acesso a água potável.
Essa disparidade não é democrática também. Segundo a OMS, o ser humano necessita de 50 litros/dia/hab para beber, cozinhar e fazer sua higiene. O norte-americano usa quase 600 litros/dia. O africano, 6 litros/dia. As fracas políticas públicas dos países em desenvolvimento também mostra seus pífios resultados: apenas 2% da água residual da América Latina recebe algum tratamento, e mais de 700 milhões de indianos não têm saneamento básico adequado. Na China, 80% dos principais rios estão em tal estado de degeneração que não apresentam mais condições para a vida aqúatica, e 90% de todas as águas subterrâneas sob as principais cidades está contaminado. Dos 25 países do mundo com a pior "oferta" de água limpa, 19 são africanos. Por conta desse panorama, milhares de angolanos morreram de uma epidemia de cólera em 2006.
Nesse pintura do holocausto, há os que apostem em soluções tecnológicas como a dessalinização por exemplo. Há de se colocar na conta das soluções, o dispêndio energético para que soluções como essas sejam minimamente viáveis. Existe o custo entrópico para que a Osmose Reversa aconteça e transforme agua salgada em água doce. Isso custa muitos mais dólares/m3 que os métodos mais convencionais usados por enquanto. Além disso, deve ser somados os custos da distribuição e manutenção das redes. Lembro-me de ter participado de uma apresentação da Suez em 2002, mostrando os resultados da priovatização das Águas de Manaus em seus 2 anos de operação. Seu maior desafio: reverter a quantidade de "gatos" no sistema de abastecimento. Era algo impressionante a quantidade de canos que retiravam água da principal adutora: o conflito social com a multinacional francesa estava escancarado. Apesar de hoje pertencer ao grupo Solvi, dissidentes da antiga Suez aqui no Brasil, ficou claro que as soluções neoliberais de mercado auto-regulatório, não foram suficientes sem o avanço de políticas públicas.
O desafio é imenso, o plano das nações em conjunto com a ONU é fraco. Os resultados são os mostrados. Desse jeito, não haverá explendor tecnológico: poderemos sucumbir antes de nossos antropocêntricos desejos de civilização por tratarmos o primeiro e mais precioso dos bens da vida como uma commodity inesgotável.

(Foto: Lynn Johnson)

segunda-feira, 27 de julho de 2009

O mundo nunca mais será o mesmo

A história de nosso grupo hominídeo, o Homo sapiens, começa entre 250 e 200 mil anos atrás, no Paleolítico inferior . As fontes de estudo ainda nos dão esta "pequena" margem de 50 mil anos de imprecisão. Convenhamos que com 50 mil anos e nossos neurônios, seríamos capazes de realizar muitas coisas. Mas na pré-infância de nossa humanidade, nossa relação com a natureza e a termodinâmica era muito diferente da atual (Arqueologia das Primeiras Culturas, John Gowlet,p 60). Como caçadores-coletores, dependíamos quase que exclusivamente da energia dos nossos músculos, auxiliados por ferramentas de pedra que herdamos intelectualmente de nossos parentes ancestrais Australopithecus, que surgiram a aproximadamente 2,5 milhões de anos atrás, no início do Paleolítico (K. Kris Hirst, Archaeology Guide). Nossa condição de sobrevivência se refletiu no número de indivíduos ao longo do tempo. Mas não quero me ater, nesta discussão, aos processos evolutivos da nossa espécie, num emaranhado de explicações antropológicas. Meu desafio aqui é traçar um paralelo entre nossa relação de crescimento demográfico e domínio das fontes energéticas. E para isso, vou simplificar nossa pacata coexistência com os recursos presentes na natureza, nosso modo de vida baseado na caça e coleta dos últimos 100.000 anos e nosso avanço energético a 12.000 anos atrás, berço de nossa civilização.
Nosso modo de vida é radicalmente transformado a aproximadamente 12.000 anos atrás, quando passamos de nômades caçadores-coletores a sedentários agricultores suíno-pecuaristas. Isso não se deu ao acaso e nem por lógica. Segundo Jared Diamond (Guns, Germs, and Steel: The Fates of Human Societies- 1997), uma provável e terrível seca de mais de 1.000 anos, no Crescente Fértil (atual Iraque), forçou as tribos caçadoras a buscar alternativas "energéticas" alimentares em meio a uma escassez de animais e plantas. Isso nos forçou ao advento da agricultura. Primeiramente plantando como complemento à caça, e num segundo momento, fixando-nos à terra e domesticando mamíferos pra nossa alimentação (suínos, segundo o arqueologista Dr. Michael Rosenberg da Universidade de Delaware). Os primórdios de nossa agricultura embasaram-se em nossa força e ferramentas, e logo, lançamos mão da força animal com o gado e cavalo domesticados (Saltini Antonio, Storia delle Scienze Agrarie, 4 voll., Bologna 1984-89).Nossa relação com a disponibilidade energética se multiplicou, e conseguimos uma maior eficiência na produção de alimentos, o que nos permitiu a organização em castas e uma explosão demográfica contínua e ininterrupta. Seguem-se as grandes civilizações, que ainda assim, embasavam seu modelo produtivo em uma matriz energética animal-escravocrata. Apesar de fontes alternativas como a madeira terem sido utilizadas para a produção de energia e produção de bens, de maneira sistemática durante toda a nossa história, nossa matriz energética não teve mudanças profundas até o advento dos combustíveis fósseis nos primórdios da revolução industrial. Segundo David Price, em 1995, "a energia extrasomática usada pelas pessoas por todo o mundo representa o trabalho de cerca de 280 mil milhões de homens. Ou seja, é como se cada homem, cada mulher, e cada criança em todo o mundo tivessem 50 escravos. Numa sociedade tecnológica, como os Estados Unidos, cada pessoa tem mais de 200 desses tais 'escravos fantasma'.".
Para fazermos um paralelo entre o nosso sucesso em termos de indivíduos e sua associação à disponibilidade energética, vou citar um ponto de referência na nossa pré-história. Segundo Stephen Oppenheimer (Out of Eden / the Real Eve - 2003), uma super erupção vulcânica do Monte Toba, Sumatra, a aproximadamente 74.000 anos atrás, teria causado um inverno nuclear de mil anos, cobrindo a India e Paquistão com uma camada de 5 metros de cinzas. Esse evento teria reduzido dramaticamente nosso grupo humano a apenas 10.000 adultos. Levaríamos o curso restante da nossa pré-história e mais 2.000 anos da nossa história, para alcançarmos uma população mundial de aproximadamente 5 milhões, no início da agricultura, e 200 a 300 milhões de indivíduos (David Price - Energia e Evolução Humana - 1995) próximo ao nascimento de Cristo, no ano zero. Um número significativo, porém árduo: de 10.000 a 200-300 milhões de seres vivos em 72 mil anos, mas com uma clara explosão demográfica em 8 mil anos. Levamos mais 1650 anos para duplicarmos a população para 500 milhões de habitantes, através de nossa organização social, tecnologias e resistência a doenças. Mas é com o advento do combustível fóssil que a sorte deste grupo dá uma guinada evolutiva. Em 1800, apenas 150 anos após, chegamos à marca de 1 bilhão de habitantes. E em 1930, 130 anos passados, duplicamos de novo. Trinta anos após, em 1960, éramos 3 bilhões.
Nasci em 72. O mundo já havia se enfrentado duas vezes em grandes guerras. Nosso sistema político, tornado-se complexo. Nossa maneira de gerar riqueza, funcionando a todo o vapor, criando a nova e moderna religião econômica. Campos da ciência explodiam em conhecimento, saúde, genética, robótica, astronomia. No ano em que nasci, já éramos 3,8 bilhões (UN report data - 2004). A riqueza associada a nosso sucesso nos trouxe maiores expectativas de vida. Mas toda essa opulência tecnológica tinha um sócio vitalício: a energia. Não é a toa que várias correntes científicas defendem o cunho, estamos vivendo a era energética. Nossa matriz energética atual é basicamente composta de combustíveis fósseis. Os combustíveis fósseis são basicamente, o resultado da captura energética solar, em todo o seu ciclo da pirâmide alimentar, guardado nas profundezas do nosso planeta, como resultado da transformação da energia contida nos fótons em hidrocarbonetos. Na nossa adolescência energética, a 300 anos atrás, abrimos a caixa de Pandora e descobrimos a energia barata e abundante. Aprendemos a coletá-la, transmiti-la e armazená-la de diversas formas para que a utilizássemos como nos conviesse. Chegamos, através disso, a aurora genética. Nosso domínio da energia, produção de alimentos e geração de riqueza nos trouxe até aqui. Somando-se todos os cientistas da humanidade em nossa história até o início do século XX, não são páreos os números para a quantidade de cientistas vivos produzindo conhecimento neste instante.Os números não mentem, no transcorrer destes meus 37 anos vividos em nosso planeta, assisti e continuo vivenciando os sucessos e desafios decorrentes deles: já somamos 6.774.020.072 humanos segundo a ONG CountTheWorld. Quase 3 bilhões a mais desde que nasci ou quase o dobro. Nunca na nossa história tivemos um patamar parecido. Nunca também multiplicamos exponencialmente nesta velocidade nossa necessidade de manter a razão energética por habitante e conseguir recursos naturais para manter nossa fome egocêntrica. Aonde esta curva nos levará? Senão a um colapso ou uma política de danos aceitável, Raymond Kurzweil, inventor e futurista norte-americano renomável, dá as nuances de nossa pintura em seu livro “Fantastic Voyage: Live Long Enough to Live Forever”: nos próximos 20 a 50 anos, nosso mundo verá transformações significativas, como as do século XX inteiro, acontecerem 32 vezes. Pois é, quem viver, verá.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Matas legais

É coisa do passado, eu sei. Mas parece que quando se fala em desenvolvimento sustentável, infelizmente uma maioria arrebatadora enxerga esse conceito como vanguardista ou utópico. Por várias razões e interesses (muito deles obscuros), a consciência popular ainda não consegue ver a diferença entre crescimento e desenvolvimento. E a classe política apenas ajuda a confundir. É o caso do novo código ambiental catarinense, que dentre outros absurdos, promulgou a lei que permite a redução do corredor das matas ciliares de 30 metros para 5 metros (ou seja, uma árvore de largura) e a isenção do reflorestamento dos 20% da reserva legal num período de 20 anos (como está no Código Florestal Nacional, de 1965). Tudo isso com o pano de fundo da "necessidade" de desenvolvimento do estado. Balela e confusão. O setor de Papel e Celulose, agente do agribusiness através de plantios de monocultura de pinus e eucalipto, já sabem, depois de anos de estudo, que promover a biodiversidade é benéfico para seu negócio. A criação de RPPNs e APPs ajuda no controle de pragas, fator vivo nas monoculturas. Nada como deixar que a natureza dê uma mãozinha. Esses exemplos vêm ano a ano ganhando hectares em todas as corporações do setor da celulose brasileiro. Abaixo, um exemplo nesse sentido advindo do grupo Klabin. Serve para mostrar que político safado e burro, chega a dar um punhado suficiente pra mudar a lei. Talvez esteja na hora de prestarem atenção que eles estão ideológica e tecnologicamente afastando-se cada vez mais dos resultados do desenvolvimento. Se até a indústria já está percorrendo o caminho inverso, fica de novo a pergunta: quem é que eles estão representando?

Klabin comemora resultados do Matas Legais

09/07/2009 - O Programa Matas Legais, iniciativa da parceria entre a Klabin, maior produtora e exportadora de papéis do Brasil, e a ONG Apremavi (Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida), completa o primeiro ano de atividades no Paraná com importantes resultados para o meio ambiente. De seu lançamento, em junho de 2008, até maio deste ano, o Programa já distribuiu mais de 79 mil mudas de espécies nativas, quantidade suficiente para recuperar mais de 30 hectares de matas, e promoveu a demarcação de 188 hectares de Áreas de Preservação Permanente (APPs), uma das prioridades do Programa.As mudas de espécies nativas distribuídas a partir de setembro do ano passado foram plantadas em 212 propriedades rurais paranaenses após a etapa de estudo e mapeamento das áreas. As propriedades desta fase do Programa são localizadas nos municípios de Curiúva, Sapopema, São Jerônimo da Serra, Congonhinhas, Figueira e Ibaití. Também nos municípios de Reserva e Ventania algumas propriedades receberam projetos-pilotos especiais do Programa.Por meio do Programa Matas Legais, os pequenos e médios produtores rurais recebem a orientação para planejar suas propriedades em atendimento à legislação ambiental. Eles também aprendem a conciliar a formação de matas ciliares saudáveis e a recuperação de áreas degradadas com a prática de outras atividades agrícolas produtivas. Este modelo sustentável contribui para o equilíbrio do ecossistema local e para o aprimoramento das atividades de florestas plantadas. O objetivo é, nos próximos anos, estender as atividades do Matas Legais para os demais produtores rurais já integrantes do Programa de Fomento Florestal da Klabin no estado.A assistência técnica é realizada em campo pela equipe de profissionais da Apremavi. “Além dos benefícios ambientais, há aspectos econômicos e sociais de imensa relevância pois o Matas Legais permite geração de renda aos produtores e a preservação do meio ambiente”, enfatiza Miriam Prochnow, coordenadora de Políticas Públicas da Apremavi. “Os resultados demonstram que é possível colocar em prática a legislação ambiental aliada à sustenatbildiade”, finaliza. Miriam explica que muitos integrantes do Programa são de assentamentos, que passam a adotar um modelo sustentável. Um bom exemplo é a propriedade de Augustinho Fernandes Quevedo, no assentamento Paulo Freire, em São Jerônimo da Serra. “O Matas Legais é muito importante para que o agricultor possa ter fazer seu trabalho e ter sua renda de uma forma correta. Hoje, trabalho com leite, milho, soja, trigo e tenho 4,5 alqueires de florestas plantadas na minha propriedade”, diz. “E desde que entrei no Programa, plantei mais 400 mudas de espécies nativas. Se todos fizerem a sua parte, o meio ambiente é que sai ganhando”, completa.De acordo com Carlos Mendes, gerente de Pesquisa e Planejamento Florestal da Klabin, o programa também inclui ações de educação ambiental. “Trabalhar a consciência ecológica das comunidades é uma importante iniciativa para a conservação do patrimônio natural paranense, principalmente no longo prazo”, completa. O programa incentiva a preservação da Mata Atlântica e a introdução de espécies como araucária, imbuia, canela-preta, sassafrás, cedro, canjerana, ipê-amarelo, ipê-roxo, entre outras, sendo algumas delas ameçadas de extinção. “A recuperação das matas ciliares permite a formação dos corredores ecológicos de matas nativas, que, por sua vez, favorecem a manutenção e incremento da biodiversidade local”, explica.A iniciativa está em sintonia com a Política de Sustentabilidade da Klabin, pela qual a empresa se compromete a assegurar o abastecimento de madeira plantada para suas fábricas de forma sustentada, preservando os ecossistemas naturais associados. “A companhia aposta no Programa Matas Legais, em parceria com a Apremavi, e em seus benefícios para o meio ambiente e para as comunidades. Assim, trazemos o meio rural e suas comunidades para participar de nossa cadeia produtiva de forma sustentável”, finaliza Mendes. Celulose Online.

Planejou com o Lula...

Brasil Ecodiesel fecha usina no Ceará

A usina de biodiesel da Brasil Ecodiesel, em Crateús, no sertão central cearense, fechou suas portas por problemas financeiros e ambientais. Inaugurada, em janeiro de 2007, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a unidade estava parada havia seis meses.
O fechamento da unidade foi anunciado, na última sexta-feira (10), na Assembleia Legislativa do Ceará, pelo deputado Hermínio Resende, que afirmou que a empresa estaria inclusive com as contas de água e luz atrasadas.
De acordo com o prefeito de Crateús, Carlos Felipe Saraiva Bezerra, a empresa teve seus problemas agravados com a queda do valor das ações na Bolsa de Valores, que no começo eram avaliadas em R$ 12 e agora estavam custando apenas R$ 0,80.
Problemas financeiros
A usina tinha capacidade instalada de produção para 10 milhões de litros de óleo por mês, mas, desde sua inauguração apresentava problemas em adquirir matéria-prima.
Amparada no programa do governo federal de desenvolvimento do biodiesel, a usina deveria incentivar a produção de mamona no sertão cearense. Para cada hectare plantado, a usina recebia R$ 200. Mas, apesar dos subsídios recebidos, a empresa sequer conseguia pagar o preço mínimo do quilo da baga do produto aos pequenos agricultores da região. Como o plantio de mamona não deslanchou no município, a unidade passou a adquirir, então, soja e dendê no Piauí e na Bahia.
Na opinião do presidente da Ematerce (Empresa de Assistência Técnica e Extensão do Ceará), José Maria Pimenta, o problema financeiro provocou o fechamento da usina. "Nenhuma empresa fecha se estiver dando lucro", comentou.
Com informações da Agência Estado
Fonte: Campo News

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Brigar pra que, pelo que?

Direto do Greenpeace...

Os ruralistas do Pará não querem o debate

Depois de ouvir horas impropérios de ruralistas em Brasília, Greenpeace desiste de ir à Belém para discutir o relatório do gado. Deputados do Pará querem ganhar no grito
O Greenpeaace decidiu, na manhã de hoje, não enviar nenhum representante à audiência pública da comissão de agricultura do Senado, que será realizada hoje, às 15 horas, não em Brasília, mas na Assembleia Legislativa do Pará, em Belém. A audiência foi convocada para discutir o conteúdo do relatório ‘A Farra do Boi na Amazônia’, lançado pelo Greenpeace no início de junho. Infelizmente, o Greenpeace, depois de passar seis horas ontem, dia 1ª de julho, na comissão de meio ambiente da Câmara dos Deputados para debater o tema da rastreabilidade da produção de carne – um dos pontos levantados pelo nosso relatório – percebeu que a bancada ruralista do Pará não quer discussão.

Durante três horas seguidas, os deputados paraenses, os únicos presentes em peso à reunião da comissão na Câmara, limitaram-se a vociferar insultos e ofensas contra o Greenpeace. Bateram no peito para berrar que a Ong deveria ser expulsa do país, desfiaram ameaças e se enrolaram na bandeira nacional para defender o desmatamento. Mas em nem um momento sequer, se dispuseram a discutir as denúncias que fazem parte do relatório divulgado pelo Greenpeace, um sinal claro de que seu conteúdo é um retrato fiel da situação do gado na Amazônia em geral, e no Pará em particular.

Os ruralistas sequer aceitaram discutir com os representantes do Ministério Público Federal presente à audiência na Câmara, a ação recentemente impetrada pelos procuradores para combater a ilegalidade que ronda a produção da carne no Pará. Os deputados reclamaram de injustiça e clamaram para que o MPF suspendesse ou retirasse a ação. Houve deputado que ameaçou os procuradores com processo e pedido de perda de função.

Diante do que aconteceu ontem, o Greenpeace considerou inútil comparecer à audiência de hoje em Belém. A perspectiva era a de ficar horas ouvindo novamente ameaças e impropérios de políticos que estão apenas interessados em posar para seus currais eleitorais no Pará. Além disso, havia também uma preocupação com a segurança de todos os participantes da audiência em Belém. Os sindicatos rurais do estado e a Federação de Agricultura e Pecuária do Pará (Faepa) estavam convocando, com tons hostis, manifestações para hoje na capital paraense.

Levando-se em conta a virulência do discurso dos deputados ruralistas ontem na Câmara, o Greenpeace foi obrigado a considerar a possibilidade de haver violência. A direção da Ong enviou ofício ao governo estadual pedindo garantias e reforço policial. Não obteve resposta. O presidente da comissão de agricultura do Senado, Valter Pereira (PMDB-MS), também não tinha obtido, até o meio da tarde de ontem, qualquer resposta do governo estadual sobre a questão da segurança em torno da reunião.

O Greenpeace reitera que continua aberto ao debate sobre meios para modernizar a indústria da carne brasileira, afim de prepará-la para uma competição cada vez mais renhida por mercados internacionais e evitar que o gado continue a ser o principal vetor de desmatamento na Amazônia.Pressione o governo brasileiro a adotar o Desmatamento Zero. Assine nossa petição!

terça-feira, 30 de junho de 2009

Tenho que dar o braço a torcer...


Com críticas que continuam a rondar os programas esportivos, sou obrigado a dizer obrigado... ao Dunga! Não esperava a chance de assistir a um espetáculo de alta emoção, o máximo que o torcedor pode pedir. Sim, porque o resto são apenas estratégias para conseguir o que foi visto. Os EUA são fracos? Não interessa, os EUA ganharam um título inédito: nunca haviam chegado tão longe numa competição internacional. Os EUA são fracos e o Brasil se beneficiou? Não interessa também, a amarelinha deu uma bonita demonstracão de superação psicológica, de jogo de equipe, mostrou seus heróis em campo. Portanto, um jogo romântico. Como a tempos eu não via.

Mas o que isso tem a ver com o ambiente? Pra mim que abri a semana fazendo analogias com a seleção canarinha, bastante. E, assim como foi pro Dunga, tenho que dar o braço a torcer pro Greenpeace. Sim, pois esta pop-king-ong internacional conseguiu um resultado por muitos sonhados e sem resultados até então: abalar a raiz da principal causa do desmatamento amazônico. Sim, escrevam sobre isso jornais, divulguem o feito!!! Este mês, tive a chance de participar de várias atividades com o SOS Mata Atlântica e público em geral. E o mais curioso é que perguntei, persistentemente a mais de 200 pessoas "Qual é a principal causa do desmatamento da Amazônia, na sua opinião?". Que me lembre, tirando 6 crianças que acertaram, o coletivo popular impera: as madeireiras. E esticando a prosa, é quase unânime: as madeireiras desmatam pra, em grande parte exportar ilegalmente as nossas madeiras tropicais pra países que pagam por isso, como os da União Européia... e aí, nos resignamos com o último pensamento: nada a fazer, ainda nos usam como colônia.

Não dá pra dizer "nada disso", pois há uma cota de verdade nisso, afinal, o mercado de exploração ilícita continua retirando não apenas nossas árvores, mas das últimas remanescentes de florestas tropicais em Gana na África ou em Bornéu, na Ásia. Mas se quisessemos ajudar a diminuir o desmatamento irracional da Amazônia, que podemos fazer nós, pacatos cidadãos? E aí, é que não me canso de pensar na tacada do Greenpeace: Genial caras!
Depois de 3 anos investigando, lançado este mês o relatório "A Farra do Boi", que não apenas desmascara números até agora desconhecidos, mas também nos coloca na posição de réus, junto com outras grandes corporações. Resumidamente, e o que vocês devem lembrar e associar ao desmatamento da Amazônia é: PICANHA! Sim, a criação de gado de corte é a maior responsável de longe pelo desmatamento da floreste densa chuvosa brasileira. Segundo o Greenpeace, "A indústria da pecuária na Amazônia brasileira é responsável por um em cada oito hectares destruídos globalmente. ". Muito já se falava sobre isso entre os ambientalistas. O que não se havia feito até então é ter dado nome aos bois, literalmente. Nesse relatório, o Greenpeace mostra a rota da devastação: "evidências ligam a cadeia contaminada de produtos amazônicos aos fornecedores de muitas marcas reconhecidas mundialmente, incluindo uma longa lista das chamadas empresas ‘Blue Chip’ (‘ações de primeira linha’): Adidas, BMW, Carrefour, EuroStar, Ford, Honda, Gucci, IKEA, Kraft, Nike, Tesco, Toyota, Wal-Mart."

E a lista não pára: o couro também vai terminar em artigos de luxo da Boss, Geox, Gucci, Hilfiger, Louis Vuitton e Prada. Empresas européias usam na confecção de vagões de trem: Trenitalia, Eurostar Group, Cisalpino AG (todas italianas) e as francesas SNCF e Thalys International. Refeições prontas vendidas em super ou lojas de conveniência na Inglaterra: 6,3% do consumido lá vem dos 3 frigoríficos brasileiros. Unilever, Johnson & Johnson e Colgate Palmolive compram a glicerina, produto bovino da Bertin.


Bom, como vocês podem imaginar, a divulgação dessa cadeia simplesmente arrebentou com o maior produtor de carne do mundo.

E teje dito. Num país onde o senado se "dana pra opinião pública", esses frigoríficos operavam sem medo do que os stakeholders (falo deles numa próxima) poderiam pensar. Verifiquei e vi que nenhum deles possui Relatório de Sustentabilidade... claro. Mas a casa caiu. Quais foram os capítulos da novela, na sequência?

- A Associação de Supermercados de SP, representando os distribuidores (Wal-Mart, Carrefour e Pão de Açucar) : Só compro carne se comprovar que a origem não é da Amazônia Ilegal

- A Adidas: Bertin, queremos uma reunião já, aqui na Alemanha, com um representante do Greenpeace presente. Não compramos mais couro que não tenha certificado de origem...

- IFC (Corporação Financeira Internacional), braço financeiro do Banco Mundial para o setor privado, anunciou que vai descontinuar a parceria com a Bertin, que incluía um empréstimo de US$ 90 milhões para que a empresa frigorífica brasileira expandisse suas operações na Amazônia. O valor ainda pendente do financiamento, no valor de US$ 30 milhões, será cancelado.

- Os frigoríficos: Essa ONG estrangeira deve ser expulsa do país. Vamos processá-los

- Nossos políticos... bom é só ver no próximo post, o que esses canalhas fizeram... até se enrolaram na bandeira brasileira.. mas de patriotismo nada, pura sem-vergonhice (mais uma vez)
Pois é... tenho que dar o braço a torcer... o que o Dunga e o Greenpeace fizeram, cada um à sua maneira, mudaram o rumo das coisas... pelo menos por enquanto!

sexta-feira, 26 de junho de 2009

O incrível linguajar das Bactérias

http://www.ted.com/talks/lang/por_br/bonnie_bassler_on_how_bacteria_communicate.html


Esta é mais uma daquelas apresentações em que a vontade de expandir seus conhecimentos traz ventos de esperança. Esperança que a ciência nos ajude, através do seu incomparável numérico exército: somando-se todos os cientistas da história humana, não chegamos ao atual número de cientistas vivos. Melhor que isso: interagindo multidisciplinarmente e gerando conhecimento que dobra a cada 3 anos.
Esta maravilhosa apresentação de Bonnie Bassler sobre o mecanismo químico de comunicação entre bactérias e sua replicação desse modo nas células que estruturam nosso corpo, atestam o assombroso e imprevisível que é a era a qual estamos adentrando.

Agradeço a amiga Nina Orlow, do Movimento Nossa São Paulo, pelo presente enviado!





segunda-feira, 15 de junho de 2009

Nosso Planeta, Nossa Casa...

Sou obrigado a postar sobre este documentário. Dentre as toneladas de informações que leio por semana de assuntos pertinentes ao ambiente, este documentário, filmado totalmente em alta definição (HD) numa sequência de tomadas aéreas de 54 países e 120 locais, e produzido por Jean Luc Besson e Denis Carot, essa desnorteou, ou melhor, norteou pra onde devem continuar os esforços. "Home, Nosso Planeta, Nossa Casa" é o exemplo clássico de "uma fotografia valem mil palavras". No caso do documentário de aproximadamente 98 minutos de duração, deixa-nos sem palavras. Primeiramente pela magnífica fotografia de Yann Arthus-Bertrand, com 500 horas de filmagem através de 217 dias em 18 meses. Segundo pela maravilhosa trilha sonora de Armand Amar, que por si só, é atriz coadjuvante da narração.Terceiro, por que é mais um soco no estômago sobre a verdade do efeito antrópico sobre nossa nave, Gaia. Depois de uma sequência hollywodiana, onde Al Gore alertou, através de "Uma Verdade Inconveniente", Wall-e (Pixar) nos emocionou em seu filme homônimo e "Terra" da Disney nos mostrou, essa produção francesa é realmente deslumbrante, e ao mesmo tempo, frustrante. O filme traz mais méritos ainda. Foi lançado simultaneamente em 87 países, com catraca livre nos cinemas ou apresentações gratuitas fora das salinhas. Foi o caso das lojas FNAC no Brasil, um dos apoiadores da produção. Além disso, países como Portugal tiveram sua transmissão em canal aberto. Mas a maneira mais democrática de distribuição torna o filme um marco: a disponibilização do documentário em 14 línguas no YOUTUBE, em alta definição. Eu mesmo o assisti 2 vezes assim. Pena que ainda não consegui manter a alta definição ao baixá-lo para meu IPOD. Sim, porque esse é mais um daqueles filmes para se assistir na casa do Romuliche, noite de sábado, depois do truco. Não vejo a hora do DVD sair por aqui. O filme teve estardalhaço de estréia no dia 5 de Junho. Não poderia ser outra data a não ser essa: dia mundial do meio-ambiente. E nós no Brasil não poderíamos assiti-lo num momento mais propício, quando ainda sofremos a ressaca da MP 458 aprovada no senado pela liderança da bancada ruralista, diria que essa sim foi diferente do documentário de Yann Arthus-Bertrand. Este último, um soco no estômago, a MP, um chute mais embaixo. Depois do filme, não posso dizer que me desanimei, mas quase, pois após encher nossos olhos com o desastre que a humanidade tem se esforçado em kilojoules pra estruturar, Yann apela para a união e que não há mais tempo para o pessimismo. E nisso concordo, espaço para o pessimismo havia antes de dar-nos conta da necessidade de reinvenção de nossa civilização. Agora, é tudo ou nada, mesmo tendo a bancada ruralista, a industria elétrica, o lobby dos transportes, o Ministro Lobão Termoelétrico, todos juntos jogando no outro time. Já não importa quem vai ganhar... importa em que time você quer jogar. Todos já estamos perdendo.

http://www.youtube.com/watch?v=tCVqx2b-c7U

Cabe também deixar algumas estatísticas muito ilustrativas, pontos nos quais servem de boas causas pra quem quer se engajar:

20% da população mundial consome 80% dos recursos do planeta
GEO4, UNEP (Organização das Nações Unidas para o Meio Ambiente) 2007

O mundo gasta doze vezes mais em armas do que em ajuda de desenvolvimento de países
SIPRI Yearbook, 2008 (Instituto Internacional de Pesquisa em Paz de Estocolmo) OECD, 2008 (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico)

5.000 pessoas morrem todos dias por beber água poluída. Um bilhão de seres humanos não têm acesso à água de beber salutar
UNDP, 2006 (Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas)

1 bilhão de pessoas passam fome
FAO, 2008 (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação)

Mais de 50% do grão comercializado ao redor do mundo é usado para ração animal ou biocombustíveis.
Worldwatch Institute, 2007 FAO, 2008

40% da terra cultivável é degradada
UNEP (Organização das Nações Unidas para o Meio Ambiente), ISRIC World Soil Information

A cada ano, 13 milhões de hectares de florestas desaparecem
FAO, 2005

1 mamífero em 4, 1 pássaro em 8, 1 anfíbio em 3 estão ameaçados de extinção. As espécies estão desaparecendo mil vezes mais rápido do que o ritmo natural de extinção
IUCN, 2008 (União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais) XVI Congresso Internacional de Botânica, Saint-Louis, USA, 1999

75% dos produtos da indústria pesqueira estão extintos, esgotados ou em risco de extinção.
Fonte ONU

A temperatura média dos últimos 15 anos tem sido a mais alta desde o início de seu registro
NASA GISS data http://data.giss.nasa.gov/gistemp/graphs/Fig.A.txt http://data.giss.nasa.gov/gistemp/graphs/Fig.A2.txt

A calota polar perdeu 40% de sua espessura em 40 anos
NSIDC, National Snow and Ice Data Center (Centro Nacional de Dados sobre Neve e Gelo), 2004

Poderá haver 200 milhões de refugiados do clima em 2050
The Stern Review: the Economics of Climate Change Part II, Cap. 3, pág. 77
http://www.hm-treasury.gov.uk/d/Part_II_Introduction_group.pdf


quinta-feira, 11 de junho de 2009

VIVA A MATA 2009
























O que é: A Fundação SOS Mata Atlântica promove mais uma edição do Viva a Mata - mostra de iniciativas e projetos em prol da Mata Atlântica, entre os dias 22 e 24 de maio, no Parque Ibirapuera, em São Paulo.

O evento comemora o Dia Nacional da Mata Atlântica (27 de maio) com uma grande exposição aberta ao público. Todas as atividades são gratuitas e a programação incluir palestras, estandes temáticos, oficinas, lançamentos de livros, apresentação de peças teatrais, além de várias outras iniciativas de dezenas de organizações que se reúnem para mostrar o que vem sendo feito pela conservação da Mata Atlântica Brasil afora.


O que voluntários como eu fazem... bom, não os como eu, os que trabalham de verdade:
Oficinas de plantio de mudas, painéis com temas sobre os ciclos hídricos, políticas públicas, a mata atlântica, e água no planeta; jogos lúdicos com as crianças incluindo artesania na sucateca, teatro para as crianças, mostra de projetos dos SOS para o público em geral além de suar a camisa pra montar, administrar, ajudar e desmontar tudo o que cabe ao grupo de voluntários (uffa).


O que eu fiz: de tudo um pouco, brinquei com as escolas públicas no jogo da reciclagem, me deliciei orando sobre as políticas públicas, cidadania, problemas urbanos, movimentos sociais, e claro, sempre fazendo a ligação a degradação dos nossos biomas, nossos quintais; tirei fotos, fui aos debates, acendi velas pra manifestação contra os 400 projetos de lei que tramitam no congresso tentando de alguma maneira derrubar vergonhosamente o nosso código florestal (irresponsavelmente, claro). Enfim, vivi cada pedacinho possível desse evento que apesar de cansativo, é a coroação do trabalho desta grande fundação que é o SOS.


A provocativa Faça "Xixi no Banho" foi o atrativo polêmico e engraçado da campanha de divulgação do VIVA A MATA desse ano, que traz, no mínimo, à tona, as revisões de hábitos que teremos que enfrentar nas discussões da Agenda 21. Você faz xixi no banho?


O mais delicioso de um evento como esse é não só a realização de um projeto bacana, mas a possibilidade de troca: de histórias, de informações, de sorrisos e emoções, em um público tão eclético quanto numeroso: 75 mil visitantes!



Ao que parece, até esta quinta edição, não foi possível em nenhuma delas dizer que alguma das anteriores foi melhor: o evento cresce ano a ano, em visitas, em amadurecimento e profissionalidade, em brado, enfim, do começo ao fim melhorando a cada ano. É o que opinam os mais velhos de casa, como o mestre Beloyanes Monteiro, regente da orquestra de voluntários e à frente desta a mais de 11 anos, é o que opina o publico que já participou dos eventos anteriores.


Pra mim, mais do que nada, foi uma grande oportunidade de repartir conhecimento no sentido da sensibilização à sustentabilidade (essa tão manjada e distorcida palavra). Uma ocasião ímpar para se exercer a cidadania. Minha fala no painel de políticas públicas terminava mais ou menos assim:"...e vocês sabem o que é educação ambiental? Educação ambiental é isso que estamos fazendo, trocando conhecimento e informações sobre o ambiente, pois é somente conhecendo é que podemos tomar partido. E é em ocasiões como essas que tenho a chance de falar pros outros o que está acontecendo... e vocês sabem o que está acontecendo? Existem 400 Projetos de lei tramitando no congresso, assembléias e senado atacando o código florestal. Projetos de lei que querem mudar a distância de mata a se preservar nas margens dos nossos rios, as matas ciliares, propondo que os atuais 30 m caiam para 5m, como o recém aprovado código florestal de Santa Catarina, a mesma Santa Catarina que a alguns meses pediu ajuda para todo o Brasil, pela condição catastrófica das enchentes e desmoronamentos ocorrentes, desmoronamentos e enchentes estes que em grande parte foram causados pela até então retirada das matas ciliares... projetos de lei aprovando a grilagem da Amazônia, projeto de lei perdoando a retirada da reserva legal garantida pelo atual (e bombardeado código florestal!". Neste momento, as crianças estavam olhando atentas pra mim enquanto eu olhava atento pros adultos que as acompanhavam. Os adultos por sua vez sempre emudecidos com as caras de brasileiro que até um tempo atrás eu também recorria, a de indignação seguida de resignação. E nessa hora, eu tirava o zap (gato pros paranaenses que jogam truco, como eu) da manga: "Mas há uma maneira de reverter isso, e vocês sabem como? Sim, porque quem faz lei é político, representando os interesses de alguém, que na sua grande totalidade não são os nossos. Mas sabe quem coloca e tira o político de lá? Somos nós através do exercício do voto, que deve ser consciente. Então como reverter isso: anote em quem votou, e acompanhe pelos próximos 4 anos, de tempos em tempos, os projetos no qual seu eleito candidato está trabalhando, e se no final desse mandato ele não trabalhou não por você, mas pelas gerações futuras, pelo seu filho ou neto, então tire esse cara de lá. São estes baixinhos aqui que merecem nosso empenho nesse sentido. Tenho uma filha de 12 anos e não gostaria de ter que responder-lhe com peso na voz, daqui a 20 anos, quando ela veja nossos quintais ambientalmente desertificados, com baixas produtividades de alimento e emprego, com escassez de recursos que nós não tivemos, o que eu fiz pra reverter a situação da mudança do código florestal quando isso aconteceu lá por 2009... e ter que dizer-lhe: não fiz nada do que estava ao meu alcance. Um voto de cidadania.". E assim terminava o speech!

Espero todos os leitores anos que vem lá... e Vivam as Matas!!!


terça-feira, 9 de junho de 2009

Pra começar a discussão

Nos próximos posts, falarei do evento do SOS Mata Atlântica no Parque Ibirapuera. Nesse momento, apenas o cito pois foi nesse evento que tive chance de conhecer figuras da peleja ambiental de peso, seja no jornalismo com o nome de André Trigueiro (que eu não sabia que além de tudo é professor da PUC) e o Zequinha Sarney, do Partido Verde. Numa das rodas de debate, o caudilho Mário Mantovani reuniu e mostrou a Frente Parlamentar Ambientalista. E isso não é um partido, seita nem grupo eco-xiita. O mês de maio e junho foram muito quentes na discussão ambiental, a tal ponto de colocar o atual ministro Carlos Minc do Meio Ambiente na corda bamba sem garantia de continuar no cargo, pela postura do presidente Lula. Há uma necessidade evidente de contra-articulação para combater a dita "bancada ruralista", que no meio parlamentar foi ferozmente representada pela deputada Biskatia Abreu (DEM-TO).
Foram tantas baixarias legislativas nesse interlúdio (da coroação do bárbaro novo código florestal de Santa Catarina até a legalização da grilagem na Amazônia) que realmente dá a sensação que estamos rapidamente retrocedendo a passos gigantes no nosso sistema de proteção ao ambiente (falo com o cunho dos 3 pilares da sustentabilidade e não como ambientalista).
Como vou falar de outros assuntos no mês que ilustram cada um dos acontecimentos da maneira mais sintética possível, vou copiar aqui o artigo da Miriam Leitão do dia 5 de Junho que ilustra bem o pandemônio que estamos enfrentando na questão ambiental no momento...

A INSENSATEZ

Coluna de Miriam Leitão, O Globo, Sexta 5/jun

O confronto entre ruralistas e ambientalistas é completamente insensato. Mesmo se a questão for analisada apenas do ponto de vista da economia, são os ambientalistas quem têm razão. Os ruralistas comemoram vitórias que se voltarão contra eles no futuro. Os frigoríficos terão que provar aos supermercados do Brasil que não compram gado de áreas de desmatamento. O mundo está caminhando num sentido, e o Brasil vai em direção oposta. Em acelerada marcha para o passado. O debate, as propostas no Congresso, a aprovação da MP 458, os erros do governo, a cumplicidade da oposição, tudo isso mostra que a falta de compreensão é generalizada no país. A fritura pública do ministro Carlos Minc, da qual participou com gosto até o senador oposicionista Tasso Jereissati (PSDB-CE), é um detalhe. O trágico é a ação pluripartidária para queimar a Amazônia. Até a China começa a mudar. Nos Estados Unidos, o governo George Bush foi para o lixo da história. O presidente Barack Obama começa a dirigir o país em outro rumo. Está tramitando no Congresso americano um conjunto de parâmetros federais para a redução das emissões de gases de efeito estufa. O que antes era apenas um sonho da Califórnia, agora será de todo o país. Neste momento em que a ficha começa a cair no mundo, no Brasil ainda se pensa que é possível pôr abaixo a maior floresta tropical do planeta, como se ela fosse um estorvo. A MP 458, agora dependendo apenas de sanção presidencial, é pior do que parece. É péssima. Ela legaliza, sim, quem grilou e dá até prazo. Quem ocupou 1.500 hectares antes de primeiro de dezembro de 2004 poderá comprá-la sem licitação e sem vistoria. Tem preferência sobre a terra e poderá pagar da forma mais camarada possível: em 30 anos e com três de carência. E, se ao final da carência quiser vender a terra, a MP permite. Em três anos, o imóvel pode ser passado adiante. Para os pequenos, de até quatrocentos hectares, o prazo é maior: de dez anos. E se o grileiro tomou a terra e deixou lá trabalhadores porque vive em outro lugar? Também tem direito a ficar com ela, porque mesmo que a terra esteja ocupada por "preposto" ela pode ser adquirida. E se for empresa? Também tem direito. Os defensores da MP na Câmara e no Senado dizem que era para regularizar a situação de quem foi levado para lá pelo governo militar e, depois, abandonado. Conversa fiada. Se fosse, o prazo não seria primeiro de dezembro de 2004. Disseram que era para beneficiar os pequenos posseiros. Conversa fiada. Se fosse, não se permitiria a venda ocupada por um preposto, nem a venda para pessoa jurídica. A lei abre brechas indecorosas para que o patrimônio de todos os brasileiros seja privatizado da pior forma. E a coalizão que se for$a favor dos grileiros é ampla. Inclui o PSDB. O DEM nem se fala porque comandou a votação no Senado, através da relatoria da líder dos ruralistas, Kátia Abreu. Mais uma vez, Pedro Simon (PMDB-RS), quase solitário, estava na direção certa. A ex-ministra Marina Silva diz que o dia da aprovação da MP 458 foi o terceiro pior dia da vida dela. "O primeiro foi quando perdi meu pai, o segundo, quando Chico Mendes morreu" desabafou. Ela sente como se tivesse perdido todos os avanços dos últimos anos. Minha discordância com a senadora é que eu não acredito nos avanços. Acho que o governo Lula sempre foi ambíguo em relação ao meio ambiente, e o governo Fernando Henrique foi omisso. Se tivessem tido postura, o Brasil não teria perdido o que perdeu. Só nos dois primeiros anos do governo Lula, 2003 e 2004, o desmatamento alcançou 51 mil Km. Muitos que estavam nesse ataque recente à Floresta serão agora "regularizados" . O Greenpeace divulgou esta semana um relatório devastador. Mostrando que 80% do desmatamento da Amazônia se deve à pecuária. A ONG deu nome aos bois: Bertin, Marfrig, JBS Friboi são os maiores. O BNDES é sócio deles e os financia. Eles fornecem carne para inúmeras empresas, entre elas, as grandes redes de supermercados: Carrefour, Wal-Mart e Pão de Açúcar. Reuni ontem no programa Espaço Aberto, da Globonews, o coordenador do estudo, André Muggiatti e o presidente da Abras (Associação Brasileira de Supermercados) , Sussumu Honda. O BNDES não quis ir. A boa notícia foi a atitude dos supermercados. Segundo Sussumu Honda, eles estão preocupados e vão usar seu poder de pressão contra os frigoríficos, para que eles mostrem, através de rastreamento, a origem do gado cuja carne é posta em suas prateleiras. Os exportadores de carne ameaçam processar o Greenpeace. Deveriam fazer o oposto e recusar todo o fornecedor ligado ao desmatamento. O mundo não comprará a carne brasileira a esse preço. Os exportadores enfrentarão barreiras. Isso é certo. O Brasil é tão insensato que até da anêmica Mata Atlântica tirou 100 mil hectares em três anos. Nossa marcha rumo ao passado nos tirará mercado externo. Mas isso é o de menos. O trágico é perdermos o futuro. Símbolo irônico das nossas escolhas é aprovar a MP 458 na semana do Meio Ambiente.

Desculpas pelo atraso...

Aos leitores, sinto muito por ter deixado maio em branco...
Estive coletando informações para vários assuntos a serem colocados aqui:
O inventário de Gases de Efeito estufa no Brasil: como estamos
AS ilhas de calor da Zona Leste de São Paulo: o que evitar nas grandes cidades
Afinal: o Eucalipto seca o solo?
Porque uma cidade arborizada é melhor?
Seminário de Produção Mais Limpa - São PAulo
Viva a Mata 2009 - SOS Mata Atlântica
O Bombardeio ao Código Florestal Brasileiro

Bom... dedico meu tempo agora À redação, já que lancei os temas...
E vamos atualizar a agenda!!!!

Namaste

quarta-feira, 29 de abril de 2009

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Papel Reciclado para Escrita e Impressão: Fora de Moda?


Hoje o Rômulo me mandou um link sobre a inversão de mercado (no Brasil) do papel A4 para impressão reciclado e o mesmo formato Certificado. Segundo a blogueira preferida do Rômulo Andrea Vialli, do Estadão, "O consumo de papel reciclado - que já foi considerado símbolo do "ecologicamente correto"-, está em queda. Aos poucos, seu uso está sendo substituído por papéis com outros selos de sustentabilidade, como o FSC, que atesta que o produto vem de florestas plantadas, e o Carbon Footprint - que informa ao consumidor o total de carbono que o produto emite na atmosfera." Ao utilizar-se reciclado na receita, uma vez que é impossível atestar a procedência da apara de papel somado à mistura de papéis pós-consumo, não é possível para o fabricante utilizar certificações como FSC (Forest Stewardship Council), o qual atesta o correto manejo florestal das árvores utilizadas na fabricação da celulose. Os apelos de marketing ao consumidor são diferentes mas ambos "ecologicamente" corretos. O primeiro (reciclado) já passa a idéia de redução de necessidade de recursos naturais e é marrom, o segundo, leva consigo 1 ou duas certificações, que também tem peso, porém continua sendo branquinho, guerra que já fez elevar a alvura dos papéis em busca de diferenciação a alguns anos atrás. As grandes fabricantes da commoditie estão apenas se utilizando de um selo, que atesta práticas de manejo utilizadas por elas a muito tempo em realidade. São apostas de marketing que convém para alguns fabricantes. A VCP por exemplo vivia remoendo-se de inveja por não ter lançado o reciclado antes da Suzano, a pioneira. O artigo no Estadão atesta: "De olho na demanda por papéis com selo verde, a Votorantim Celulose e Papel (VCP) fez o mapeamento dos gases de efeito estufa do processo de produção de sua fábrica em Jacareí (SP) e será a primeira no País a ostentar o selo Carbon Footprint - além dela, só a fabricante norueguesa Sodra possui a certificação. "O uso de papel com selos de bom manejo florestal já está consolidado. A próxima demanda será pelo selo de emissões de carbono, e nos antecipamos", diz José Luciano Penido, diretor-presidente da VCP.
A Suzano, que detém a maior fatia do mercado de papel reciclado, também já exibe um selo de neutralização das emissões."
Um desses fabricantes (acredito que a própria IP) encomendou um estudo de ACV (Avaliação do Ciclo de Vida) pro pessoal da USP, comparando papel branco e reciclado.
Em termos de emissões de carbono, seria quase leviano ao ponto de dizer que sim o reciclado contribui menos com as emissões de GEE (Gases de Efeito Estufa), mas só o ACV pode dizer. Pelo conceito dos 3 R’s (reduzir, reutilizar e reciclar) é uma pena que se deixe de reciclar o papel marrom para a escrita, independente da quantidade de CO2 emitida no processo de fabricação, pois igual são necessárias terras e recursos para plantio e fabricação. Soma-se a isso que independente da emissão de CO2, deixa-se de oferecer uma alternativa de renda aos milhares de agentes ambientais (catadores de lixo), impactando no lado "social" da pirâmide da sustentabilidade em detrimento do apelo (se é que ele existe) puramente "ambiental". Claramente, a Natura e Banco Real declaram que o apelo de marketing visual do papel não é mais “diferencial”, o que era óbvio que passada a novidade, não seria mesmo. A principal razão envolvida é o custo mais uma vez: uma resma de 500 folhas Chamex de papel branco A4 (75 g) sai na Kalunga por R$ 12,90, enquanto a mesma quantia do ECO (com reciclado) sai por R$ 14,90 (15% mais caro). As 3 possíveis questões envolvidas nessa diferença de preço podem ser:

- Posicionamento de Marketing e/ou

- Escala menor de produção (a Suzano é a única que tem fábrica exclusiva – Fabrica C – para a produção do Reciclato, aliás, pioneira). Aliado à escala, este não deixa de ser um papel especial, o que causa uma perda de produtividade na troca de fabricação, pois é necessária a limpeza de todo o sistema para voltar a produção do branco, caso a máquina não seja exclusiva.

- O custo da adaptação da fabricação com reciclado e o próprio custo da apara x celulose para as fábricas que possuem sistema integrado (celulose e papel).

De qualquer maneira, uma pena se tudo não passou de “ondinha” de marketing.

domingo, 5 de abril de 2009

Plantando Cidadania


Pois é, finalmente participei arregaçando as mangas, desse lindo projeto que é o "Plantando Cidadania", do SOS Mata Atlântica. Das ONGs mais pop's do Brazil baronil, diria que o SOS está junto no pódio com o Greenpeace e WWF. Cada um com sua linha, e digamos que ambientalismos a parte, acabei me engajando no SOS por sua linha principal com respeito ao voluntariado: educação ambiental em escolas carentes da rede pública, localizados principalmente na zona sul de São Paulo. Por que zona sul? Simplesmente porque lá se localizam os principais mananciais de São Paulo, como a Guarapiranga.
Falando um pouco sobre o SOS Mata Atlântica, já que vou acabar colocando mais posts sobre ações no futuro: "A Fundação SOS Mata Atlântica é uma organização não-governamental. Entidade privada, sem vínculos partidários ou religiosos e sem fins lucrativos, foi criada em 1986 e tem como missão defender os remanescentes da Mata Atlântica, valorizar a identidade física e cultural das comunidades humanas que os habitam e conservar os riquíssimos patrimônios natural, histórico e cultural dessas regiões, buscando o seu desenvolvimento sustentado.".
Uma vez por mês, o Mata vai a uma escola previamente agendada, no qual se discutem as demandas da escola em termos de cidadania e educação ambiental. Nosso grande mestre Beloyanis Monteiro, responsável pela gestão do voluntariado, traz estas demandas para discussão interna onde se traça um plano de ação a ser executado no dia do "Plantando Cidadania" na escola. Várias ações são levadas a cabo no dia, que incluem apresentação de videos, jogos lúdicos que abrangem a coleta seletiva, manufatura de brinquedos com materiais recicláveis, o "túnel dos sentidos", e ações de mutirão de limpeza, pintura da escola e plantio de mudas. A troca de experiências não deixa de ser enorme, não só por ter a interação com as crianças, mas por além disso, serem crianças que vivem e convivem em regiões onde muito há de se fazer para que a cidadania por ali seja uma palavra que faça sentido.
Esta semana, a escola visitada foi a EE Antonio Aggio, liderada pela valente Maria do Ceu. Foram algumas horas de trabalho divertidas e recompensadoras, como não poderiam deixar de ser as horas de voluntariado. Ao final, no tradicional fechamento do evento, num legítimo conselho indígena em roda, escutamos algumas histórias no mínimo pitorescas desta diretora. Também pudera: uma escola inserida numa comunidade chamada Favela Cai-Cai, que ostentava o slogan "entrou aqui, só com o IML sai", não poderia deixar de ter histórias escabrosas, mas que demonstram que em tantos lugares onde o poder público tem até medo de se meter, são pessoas como esta diretora e o corpo de professores que fazem a diferença. E o SOS também.
Uma da coleção de histórias contadas pela Maria do Ceu foi a respeito da recém chegada dela à direção, confrontando uma situação de agressividade e falta de pertinência ao meio estampada nos rostos e atitudes dos alunos. Nesse interim, três membros de uma facção de poder bastante conhecida através dos meios de comunicação (leia-se PCC), vieram colocar à diretora as "regras" para utilização da quadra esportiva:
- "Segunda a segunda, todas as noites, a quadra é nossa. Pode deixar que nós tomamos conta."
E nossa diretora, com voz firme (mas se perguntando "onde isso vai me levar?") respondeu:
- Negativo, segunda a sexta, da escola. Se quiserem, sábado e domingo da "comunidade". Mas é o seguinte hein... nada de drogas, brigas ou confusões aqui dentro. Aprontou eu vou com a polícia na casa de vocês! E agora, preciso ir pois estou atrasada para uma reunião..."
Saiu sentido o calor de um canhão nas costas, mas saiu valente ouvindo "peraí, volte aqui, não terminamos a conversa!", e ela não titubeou: "Tou atrasada. Pensem e se quiserem amanhã voltem..."
No outro dia, eles voltaram, aceitaram os termos e lhe deram razão. Ponto pra Cidadania... e mais um dia de vida pra Maria do Ceu.
Enfim, só indo lá pra sentir o drama, e depositar um pouquinho de amor no coração destes pequenos jovens que merecem mais do todo, e quem sabe, se sintam no direito de serem bons cidadãos, como nós.