domingo, 29 de março de 2009

Depois da pegada ecológica, a pegada de água

Lendo o blog do meu blogueiro preferido, o Denis Russo Burgierman da VEJA.com, peguei uma citação ao site GOOD (http://www.good.is) e me deparo com este conceito que deriva da tradicional pegada ecológica e que me pareceu um bom e atual indicador.
Há essa febre entre os ecochatos de medir o impacto de tudo que se faz através de "equivalentes de gás carbônico", uma vez que este é um dos grandes vilões dos GEE (Gases do Efeito Estufa). Basicamente, transformam-se emissões em processos para um equivalente em CO2, para que tudo possa ficar facilmente mensurável em relação ao Efeito Estufa, e com isso, possam se comparar quão danosas atitudes ou produtos sejam em relação ao efeito estufa. A este indicador se nomeou "Pegada Ecológica" (pegada de deixar pegadas, não do verbo pegar) ou em inglês "Ecological Footprint", que logo derivou para a mensuração "Pegada de Carbono", referindo-se ao gás carbônico e intimamente ligada aos combustíveis fósseis, basicamente compostos de hidrocarbonetos. Tenho que ser sincero: exige uma linha de explicação e raciocínio para que o conceito seja digerido... não por alguém com 3o grau completo, mas para uma criança ou leigo no assunto, sim. Na sua essência, a medida da Pegada de Carbono tem mais a ver com o resíduo gerado por nossas ações.
Então, indo ao assunto depois desta chata introdução, simpatizei com o que este site ilustra: a Pegada de Água, ou em outras palavras, a medição de água necessária pra concretizar nossas ações ou obter produtos por nós utilizados. O conceito, neste caso, tem a ver com quantidade de recursos utilizados, que por fim é outra maneira de medir nosso efeito antrópico sobre o ambiente. Confesso que gosto mais saber quanto consumo do que quanto gero, pois no fundo no fundo, não tenho tão claro se os CO2 equivalentes gerados em qualquer ação minha ou produto consumido por mim serão absorvidos pelo plâncton dos oceanos ou árvores da mata atlântica. Isso porque tenho que pensar que CO2 entra numa trama que tem muitos desdobramentos: desde sua utilização como matéria prima para a fotossíntese até o próprio efeito climático em voga. Mas quanto consumi de água num ato me é mentalmente mais simples de entender, pois é uma medição direta de quanto estou extraindo de um bem que sei o quão necessário é pra manutenção da vida. É claro que este indicador não é tão completo por si só, pois não abrange se a água é potável ou não, e outros efeitos colaterais indesejados para o planeta que não envolvam o ciclo hidrológico (será que não? Acho que pela Teoria de Gaia do James Lovelock, não dá pra dissociar os assuntos).
De qualquer maneira, por ter essa consciência da importância da água a tal ponto de ser o primeiro recurso a ser extenuamente procurado em Marte para uma futura exploração humana, caiu nas minhas graças medir quanto de água é necessário para qualquer coisa. Acho que ainda será motivo de medição de várias interações e quiças uma simplificação de conceitos de analise de ciclo de vida dos produtos. Segundo o relatório “As empresas no mundo da água – cenários para 2025”, do WBCSD (World Business Council for Sustainable Development), prevê que, por volta de 2010, os países exigirão a divulgação pelas empresas das suas pegadas de água.
Você sabia que para fabricar um litro de Coca-Cola no Brasil, são necessários 2,10 litros de água?

Pois é, clique sobre a imagem abaixo e veja algumas ilustrações da pegada de água em coisas simples do dia a dia...


http://awesome.goodmagazine.com/transparency/web/trans0309walkthisway.html

segunda-feira, 16 de março de 2009

Terminou o dia... e não fiz nada!

A algum tempo venho num difícil exercício zen de livrar-me de um dos elementos que julgo fazer mal à saúde e bem estar: a culpa. Esta daninha psiqué que esteve inerente ao comportamento humano, parece ter crescido dentro de nossa sociedade à medida que evoluímos organizacionalmente. Não sou estudioso do assunto, mas posso apontar que parte do poder (e me refiro à igreja, seja qual seja) tem-se utilizado desta ferramenta psíquica como instrumento de manipulação das massas nos últimos 2 mil anos, pelo menos. Herdamos assim este sentimento como resultado da auto-cobrança e o anexamos à nossa cultura. Em tempos onde o que vale é ser o mais competitivo possível, e nossos índices de auto-cobrança como rodovia para o sucesso devem ser muito maiores que os tempos em que éramos caçadores-coletores, acredito que passamos a carregar níveis de culpa que beiram a uma patologia. E assim, provavelmente a soma das culpas diárias sejam fatores que se somam a outras doentias patologias do nosso mundo moderno, e que juntas causem o stress e toda uma série de efeitos psico-somáticos como a depressão e afins.
Muito bem, salvo toda esta conjectura da minha parte que não tenho formação nenhuma em psicologia ou psiquiatria, o tema do "vai pro blog" de hoje é como me livrar desta maldita sensação de findar o dia e ter a triste e vazia sensação de não ter feito nada. Cada um deveria ter seu próprio remédio, que pode até ser a latinha de cerveja que te faça esquecer da culpa, a qual já está aberta à minha frente neste momento... Mas como sou das exatas, preciso organizar um processo para isso, de maneira que eu possa, no fim do dia, e em qualquer outro, visualizar meu dia de maneira que eu me dê por satisfeito (ou não, oh não!).
Minha proposta: ao fim do dia, escrever num papel 3 pontos importantes que justifiquem um dia "espiritualmente" produtivo (não, nada a ver com religiões, mas que sirvam de alimento à alma). São eles (ao leitor, sugestões são bem vindas, desde que não tenha mais de 5 tópicos pois isto já teria muita chance de virar mais uma possibilidade de culpa):
- O que eu fiz hoje (concretizei)
- O que aprendi hoje (me renovei)
- Com que me comprometi hoje (posterguei)

Vou colocar isto no meu mural de cortiça pra que eu possa vê-los nos dias que virão. Acho que, ao rever estes 3 pontos ao fim do dia, já me darei por satisfeito e poderei dormir com a cabeça leve... enfim, o dia valeu. Salvei tudo na pasta "Anti Culpa"...


domingo, 8 de março de 2009

Pessimismo ou Ceticismo?

Depois de digerir incomodamente as teorias do colapso descritas por Jared Diamond em seu livro "Colapso - Como as sociedades escolhem o fracasso ou sucesso", não há como não compartilhar com o sentimento de perplexidade recebido por sua turma de alunos da Universidade da California em Los Angeles (UCLA) ao chegarem à questão sobre o colapso de Rapa Nui (Ilha de Páscoa): "O que se passou pela cabeça do nativo ao cortar a última árvore da Ilha?". Discussões à parte sobre se esse evento se deu ou não, não deixa de ser emblemático: iremos até a última árvore? Ao fazer o estudo em relação à como lidamos com os problemas, resumidamente Diamond adota 3 possíveis estágios de diagnóstico:
1 - O problema será gerado no futuro por nossas ações atuais ou do passado, mas não temos bases ou experiências para antevê-lo.
2 - O problema já foi gerado por ações no passado ou atuais, mas não temos como enxergá-lo (medi-lo)
3 - Somos capazes de enxergar o problema, quantificá-lo, mas não de saná-lo.

Lendo o artigo "Perigo Real e Imediato" (Revista Veja, 12 de Outubro de 2005), diria que estamos frente a uma complexidade de efeitos de ordem ambiental, gerada por um sem número de ações antrópicas que se combinam e nos colocam numa quantidade de "possíveis" respostas às quais em muitos casos não nos deixam fugir da inferência, e caímos na tentação do credo, de achar e supor, por não termos base para poder prever como esta enredada trama de ações findará.
O planeta já passou por 5 ondas de extinção em massa, todas razoavelmente explicadas por nossa multidisciplinar história: geografia, astronomia, palinologia, paleonto, arque, e tantas outras logias. Mas estamos agora sobre a perspectiva de uma nova força motriz avassaladora, o homem e seus processos. Sobre esta ótica, a qual o cientista holandês Paul Crutzen propõe que já não estamos mais na idade geológica do Holoceno, e sim no Antropoceno, não há exageros a meu ver em rotulá-la desta maneira, mesmo não sendo totalmente acadêmico, pois há uma evidência forte de inflexão nas condições (maiores índices de CO2 dos últimos 420.000 anos, podendo chegar ao maior dos últimos 50 Milhões de anos; taxa de extinção de 1.000 espécimes por ano, quando a referência de "normalidade" é de 1 por ano, derretimento das calotas, etc.). Porém, é verdade também que não somos tão bons em prever desfechos de crises, sejam de ordem social, ambiental ou financeira. Nossa capacidade de processar uma gama complexa de parâmetros ainda está muito aquém de nos possibilitar prever o clima com alto grau de exatidão para dentro de duas semanas. Por nossa incapacidade de calcular esta interação de dados de alta complexidade, há uma tendência humana de prognosticarmos o desfecho de uma crise baseados no efeito mensurável atual, quando conseguimos medí-lo, e linearizar o desfecho. Diria até que estamos engatinhando quanto a reconhecer que temos um problema, mas é impossível prever como se darão os desfechos de nossa atual crise ambiental, moral, social e geo-política. Podemos sim (e certamente devemos) manter a esperança de que desenvolveremos tecnologias mais limpas, anteciparemos movimentos legais e políticos que nos permitam dar uma guinada ao rumo das coisas, mesmo que esta aconteça aos 45 minutos do segundo tempo. Quanto ao rótulo de pessimista ou cético, prefiro dizer-me otimista, sempre. Pois o que é ser pessimista neste caso? Perdermos 90% da bio-diversidade do planeta? Fome, guerra e auto-extermínio de mais da metade da massa humana? Início de uma nova era rumo à 7a onda de extinção em massa em mais alguns milhares ou milhões de anos? Impossível prever. Podemos sim, como bem utiliza o artigo, conjeturar. E nesse exercício, podemos linearmente "prevêr" inicialmente um colapso no nosso modo de vida como conhecemos, um impacto direto do ambiente à nossa estrutura de geração de riqueza, sustento e por que não, conhecimento. Conhecimento este, aliás, tido com orgulho por parte dos céticos, que ou se encaixam na 2a possibilidade de Diamond (o problema existe, mas não o vejo pois não tenho como efetivamente medí-lo) ou simplesmente também linearizam as possibilidades tecnológicas futuras, sem incluir parâmetros críticos à equação: nossas decisões como grupo humano. Vamos e venhamos, temos vários exemplos no desenrolar da história humana onde erramos nas decisões, e fomos sim, tantas vezes, em direção ao colapso de recursos, modos de vida sustentáveis, preservação da biodiversidade. Para as gerações anteriores que se criaram com a idéia de que a vida findaria por um holocausto nuclear iniciado pelo dedo de algum louco no poder das superpotências (nosso antigo dilema moral de viver e guerrear), estamos diante de um novo dilema, que é mais frio, mais sombrio, mais silencioso: somos todos donos do dedo.