quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

O (Des)serviço da (Des)informação

Ao final de 2006 eu estava eufórico: em 2005 eu havia lido e tomado a grande chapuletada de Colapso, do Jared Diamond. Minhas idéias sobre pra onde nos levava o consumo e o que eu podia fazer contra isso como executivo simplesmente fervilhavam. Cheguei a dar de presente o livro a um dos meus melhores amigos porque sabia que se eu não o fizesse ele não o leria, e eu precisava discutir isso com alguém que tivesse nível para fazê-lo. Em 2006, veio Al Gore o ganhador do Oscar "Uma Verdade Inconveniente". No reveillon de 2006, ao rezar meus mantras e mentalizar as resoluções de ano novo, olhei para trás e sorri: 2006, o ano em que o mundo tomou conhecimento do aquecimento global!
Para um mundo onde a maioria dos cientistas acreditava até a década de 80 que uma nova idade do gelo estaria a caminho, acho que tivemos um furacão passando em nossa concepção e entendimento de um mundo mais próximo da Gaia de James Lovelock. Realmente fico contente por estas toneladas de informação virem a tona, mesmo quando dirigentes imbecis como o Bush perseguindo de maneira perversa os cientistas que se propuseram a estudar o fenômeno de maneira séria. Diria que estamos vivendo um tempo quase romântico ao vermos o novo presidente da nação mais desenvolvida do mundo bradar em sua primeira semana no poder as resoluções de transformação da economia via geração de tecnologias sustentáveis. Mas não quero na verdade falar da grande onda transformativa que está assolando o mundo acadêmico, a economia e as diretrizes do capitalismo futuro, isso eu deixo para os blogs que acompanho pois pessoas de grande gabarito tem explicado as novas tendências e tecnologias em prol do planeta com muito mais propriedade do que eu poderia.
O que sim quero falar é sobre o discurso dos que aproveitam-se do tema para vender idéias sem nenhum conteúdo, deturpadas e que chegam a ter o caráter dos piores tablóides sensacionalistas londrinos: a venda da desinformação!
Nesta semana dois blogueiros que leio com certa frequencia me alertaram para uma constatação por mim vivida: Ricardo Braga Neto (Saci) escreve no Lablogatorios/Tubo de Ensaio, uma ótima crônica http://lablogatorios.com.br/ensaios/2009/01/06/o-matador-de-passarinhos-separando-o-joio-do-alpiste/ entitulada o Matador de Passarinhos onde a síntese fica assim:

"Um exemplo fresquinho vem de uma entrevista na revista Época sobre o pesquisador Alexandre Aleixo, do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). Ainda que o conteúdo das respostas de Aleixo reflita a experiência e profissionalismo de alguém que é “apenas” o curador da coleção de aves do MPEG, a abordagem da entrevistadora induz o leitor de forma subliminar a se armar contra um absurdo óbvio: estão matando passarinhos indefesos e chamando isso de ciência. A repercussão não foi das menores: a entrevista, publicada em 31/10/08, foi a mais comentada na última semana no site da Época. A Assessoria de Comunicação do MPEG escreveu uma resposta ao editor da revista protestando com toda a razão. Aparentemente, tomando alguns comentários a esse artigo e o posicionamento incisivo da entrevistadora, o público não tem uma idéia clara da realidade de pesquisa básica sobre biodiversidade, seja na Amazônia ou em qualquer outro lugar do mundo."

Outra blogueira que sempre acompanho, a Claudia Chow do Ecodesenvolvimento http://lablogatorios.com.br/ecodesenvolvimento/2009/02/12/%e2%80%9cmercado-mais-verde-requer-profissionais-com-visao-estrategica%e2%80%9d/ escreve um excelente artigo de tema hilário pra não dizer lamentável sobre a requisição de "profissionais verdes", onde o coração do assunto gira em torno disso:
"Na primeira parte da reportagem conta todas as vantagens que tem um profissional preocupado com sustentabilidade e aspectos ambientais e sociais, fala o quanto eles estão na frente dos outros profissionais que não sabem de nada do assunto. Ai na segunda parte mostra uma pesquisa que diz que 70,9% dos processos seletivos não faz perguntas ao candidato sobre sustentabilidade, 59% afirma que é indiferente a participação do candidato em organizações ambientais e 42,4% nem pergunta se os candidatos participam de atividades ou programas sociais. Me diz onde o candidato leva vantagem se ninguém questiona-o sobre o assunto?".
Dois artigos sobre o desserviço prestado pelo jornalismo, com o intuito de embarcar nessa onda de falar sobre a sustentabilidade pra vender notícia e falar asneira.
Estou trabalhando em um projeto pessoal sobre a sucata eletrônica e rastreando os caminhos da mesma no Brasil, que no melhor dos casos, quando não vai pros lixões, é moída e jogada debaixo do tapete (vai pra China, e problema deles). Pra minha felicidade, já que estes temas não estão disponíveis no Google, estava eu semana passada no passando na frente de uma livraria e vi a INFO Exame do mês. Como é uma revista que compro uma vez por ano quando me interessam as tendências da tecnologia, peguei a na mão e comecei a dar uma olhada nos temas. Não é que fiquei louco ao ver o tema inferior esquerdo como chamada da capa?!?! "PLANETA TERRA - Onde vai parar a sucata tecnológica". Não tive dúvidas, vou comprar! Mas nesse impulso de consumir, ainda tive o vago lampejo de "peraí, talvez eu não queira consumir e pagar a revista toda por uma página de assunto...". Não tive dúvidas, procurei a página 42 e lá estavam, pelo que lembro, 5 páginas de foto de folha inteira (talvez uma ou outra com duas fotos dividindo a folha toda) e um pequeno parágrafo explicando a foto. Minha conclusão: caramba, são muito caras-de-pau de colocar uma chamada dessas na capa e mostrar uma reportagem tão pobre, onde o ditado uma imagem vale por mil palavras não ser aplica de modo algum. A reportagem não só não informa quase nada, com nem toca no assunto do real caminho da maior parte da sucata. Dá a impressão que está tudo sob controle e que o problema do lixo eletrônico nem chega a ser um problema, ao ver as coloridas e harmônicas fotos das baterias em pó que viram corantes de tinta conforme o artigo. No site da editora, ainda há um pouco de tom do problema que é, ao citar a IBM guardando por anos 200 toneladas de monitores e as baterias que ainda estão lá à espera de um parceiro que atenda às normas de descarte da multinacional americana.
Então, fica aqui a chamada pros vendedores de informação vazia, vou terminar com a frase da amiga Claudia Chow: "Jornalistas por favor, sejam coerentes e específicos, ajudem a educar as pessoas, de notícias pra enganar bobos estamos cheios e eu prefiro ler fofocas de artistas!"

3 comentários:

Rômulo disse...

Bom, também, cá entre nós, confiar na Exame é muita ingenuidade. Esse é o tipo de revista que nunca explica nada. Mais fútil que Caras. O que não justifica, claro, preferir ler sobre fofocas!

Claudia Chow disse...

Perfeito, Rambo, só arruma, por favor, um erro de portugues meu? "nem pergunta se oS candidatoS particiapam..."
Obrigada!
Precisamo de uma campanha: Por um jornalismo "verde" de qualidade! hehe

Anônimo disse...

O que acontece hoje é que sofremos um overload de notícias, os meios de comunicação pecam pelo superficialismo para atender a demanda dos leitores de saber de tudo a todo tempo. Recebemos diariamente fragmentos de informações, sem a menor análise, pois daqui a 5 segundos existe outra notícia a ser veiculada. Cai um avião alí, uma baleia encalha acolá, e vamos indo, sem notar que 90% destas informações não nos agrega nada de construtivo. O grande problema hoje está é na demanda, que dita a regra, e a excessão está hoje nos blogs, mas que na maioria das vezes trazem uma visão parcial e tendenciosa dos fatos. É preciso filtrar.