domingo, 8 de março de 2009

Pessimismo ou Ceticismo?

Depois de digerir incomodamente as teorias do colapso descritas por Jared Diamond em seu livro "Colapso - Como as sociedades escolhem o fracasso ou sucesso", não há como não compartilhar com o sentimento de perplexidade recebido por sua turma de alunos da Universidade da California em Los Angeles (UCLA) ao chegarem à questão sobre o colapso de Rapa Nui (Ilha de Páscoa): "O que se passou pela cabeça do nativo ao cortar a última árvore da Ilha?". Discussões à parte sobre se esse evento se deu ou não, não deixa de ser emblemático: iremos até a última árvore? Ao fazer o estudo em relação à como lidamos com os problemas, resumidamente Diamond adota 3 possíveis estágios de diagnóstico:
1 - O problema será gerado no futuro por nossas ações atuais ou do passado, mas não temos bases ou experiências para antevê-lo.
2 - O problema já foi gerado por ações no passado ou atuais, mas não temos como enxergá-lo (medi-lo)
3 - Somos capazes de enxergar o problema, quantificá-lo, mas não de saná-lo.

Lendo o artigo "Perigo Real e Imediato" (Revista Veja, 12 de Outubro de 2005), diria que estamos frente a uma complexidade de efeitos de ordem ambiental, gerada por um sem número de ações antrópicas que se combinam e nos colocam numa quantidade de "possíveis" respostas às quais em muitos casos não nos deixam fugir da inferência, e caímos na tentação do credo, de achar e supor, por não termos base para poder prever como esta enredada trama de ações findará.
O planeta já passou por 5 ondas de extinção em massa, todas razoavelmente explicadas por nossa multidisciplinar história: geografia, astronomia, palinologia, paleonto, arque, e tantas outras logias. Mas estamos agora sobre a perspectiva de uma nova força motriz avassaladora, o homem e seus processos. Sobre esta ótica, a qual o cientista holandês Paul Crutzen propõe que já não estamos mais na idade geológica do Holoceno, e sim no Antropoceno, não há exageros a meu ver em rotulá-la desta maneira, mesmo não sendo totalmente acadêmico, pois há uma evidência forte de inflexão nas condições (maiores índices de CO2 dos últimos 420.000 anos, podendo chegar ao maior dos últimos 50 Milhões de anos; taxa de extinção de 1.000 espécimes por ano, quando a referência de "normalidade" é de 1 por ano, derretimento das calotas, etc.). Porém, é verdade também que não somos tão bons em prever desfechos de crises, sejam de ordem social, ambiental ou financeira. Nossa capacidade de processar uma gama complexa de parâmetros ainda está muito aquém de nos possibilitar prever o clima com alto grau de exatidão para dentro de duas semanas. Por nossa incapacidade de calcular esta interação de dados de alta complexidade, há uma tendência humana de prognosticarmos o desfecho de uma crise baseados no efeito mensurável atual, quando conseguimos medí-lo, e linearizar o desfecho. Diria até que estamos engatinhando quanto a reconhecer que temos um problema, mas é impossível prever como se darão os desfechos de nossa atual crise ambiental, moral, social e geo-política. Podemos sim (e certamente devemos) manter a esperança de que desenvolveremos tecnologias mais limpas, anteciparemos movimentos legais e políticos que nos permitam dar uma guinada ao rumo das coisas, mesmo que esta aconteça aos 45 minutos do segundo tempo. Quanto ao rótulo de pessimista ou cético, prefiro dizer-me otimista, sempre. Pois o que é ser pessimista neste caso? Perdermos 90% da bio-diversidade do planeta? Fome, guerra e auto-extermínio de mais da metade da massa humana? Início de uma nova era rumo à 7a onda de extinção em massa em mais alguns milhares ou milhões de anos? Impossível prever. Podemos sim, como bem utiliza o artigo, conjeturar. E nesse exercício, podemos linearmente "prevêr" inicialmente um colapso no nosso modo de vida como conhecemos, um impacto direto do ambiente à nossa estrutura de geração de riqueza, sustento e por que não, conhecimento. Conhecimento este, aliás, tido com orgulho por parte dos céticos, que ou se encaixam na 2a possibilidade de Diamond (o problema existe, mas não o vejo pois não tenho como efetivamente medí-lo) ou simplesmente também linearizam as possibilidades tecnológicas futuras, sem incluir parâmetros críticos à equação: nossas decisões como grupo humano. Vamos e venhamos, temos vários exemplos no desenrolar da história humana onde erramos nas decisões, e fomos sim, tantas vezes, em direção ao colapso de recursos, modos de vida sustentáveis, preservação da biodiversidade. Para as gerações anteriores que se criaram com a idéia de que a vida findaria por um holocausto nuclear iniciado pelo dedo de algum louco no poder das superpotências (nosso antigo dilema moral de viver e guerrear), estamos diante de um novo dilema, que é mais frio, mais sombrio, mais silencioso: somos todos donos do dedo.

Um comentário:

Rômulo disse...

Sei não, mas ainda acho que vamos ver coisa feia logo à frente...