sábado, 12 de junho de 2010

Parque Nacional da Serra da Bocaina


Fazia tempo que eu não me metia em uma viagem diferente. Quando a Cris me convidou lá na SOS Mata Atlântica para ir à sua casa no feriado de Corpus Christi, confesso que não me embalei de cara. Tinha planos de ir pra Curitiba, até que a Cris mandou um mail com o título "Não é pra principiantes", com uma foto anexada. Opa, deixa eu ver isso direito. Uma casa que parecia de fazenda, com ares de refúgio num vale de montanha a 1.700 m de altitude, encravada na zona de amortecimento do Parque Nacional da Serra da Bocaina Bocaina, parece bom.
Entre a corrente de mails pra ver quem vai, quem desiste, quem fica, sobramos quatro. Reunião de planejamento três dias antes da saída, cardápio, viveres, logística. A logística me deixou mais animado:

- 280 Km de carro até São José do Barreiro - SP
- 4 horas na caçamba de uma Rural, adentrando ao Parque serra acima
- 2 horas de mula, subindo e descendo a montanha, pelo meio da Mata Atlântica


Comida? Tem forno a lenha, como as tradicionais fazendas paulistas do ciclo do café
Banho? O forno a lenha esquentando uma serpentina com água de montanha
Precisa pensar mais? Não, tou nessa duas vezes.

Saímos na quinta às 4 e meia da matina, com mochilas e recursos pra passarmos bem. Três horas de carro pela Ayrton Senna, passando Aparecida do Norte, entrando em Queluz e estrada secundária adentro, com suas curvas serpenteando campos de altitude. A região tem o dna da própria história da colonização do Brasil. Região de caça e coleta originariamente habitada pelos índios guaianás, tamoios e tupinambás, recebe o nome do Tupi-Guarani Bocaina, que provavelmente significa "depressão numa serra". As trilhas abertas pelos nativos serviram de acesso morro acima, partindo-se de Paraty, passando por Cunha (ambos no RJ), e funcionaram como trilha alternativa para os ouros que vinham das Minas Gerais, a fim de fugir dos impostos cobrados pela corte portuguesa (o quinto). No século XVII, descendo a serra da Mantiqueira o capitão Fortunato Pereira Leite e seu cunhado João Ferreira de Souza se detiveram com um atoleiro brabo. Ali fundaram um arraial onde, em 1820, foi erguida uma capela dedicada a São José, passando o povoado a ser conhecido como São José do Barreiro. Após o ciclo do ouro, sucede a cana, a cachaça, o peixe e a banana no litoral. Subindo pelas encostas do Vale do Paraíba, as roças de subsistência, o ciclo do café, depois o leite, e por fim o carvão.
Pelos idos da década de 30, se instalava nessa região Adolfo Lutz (1855-1940), médico, cientista e pioneiro epidemiologista brasileiro. Contemporâneo de Pasteur, trabalhou com Vital Brasil e Emilio Ribas, descobriu os mecanismos da Febre Amarela e blastomicose. Dedicou-se, depois de aposentar-se em 1908, à entomologia médica e zoologia, nos 32 anos posteriores em que, sediado no Rio de Janeiro, deslocava-se para pesquisa em campo nas suas terras na região da Bocaina. Para adentrarmos às terras dos Moutella, onde nos refugiamos, passamos pelas terras dos Lutz: 18 herdeiros do famoso cientista mantém a fazenda do Bonito de Baixo, local onde Lutz descobriu endêmicos anfíbios, e onde chegava-se naquela época apenas de avião, numa pista que hoje não existe mais. Lutz chegou a estes paradeiros quando o ciclo do café já se exauria.
Ao chegarmos a São José do Barreiro, fomos procurar o off-road que iria nos levar para lá, uma Toyota Rural 4x4 (sem isso não dá) e nosso piloto Selviano Antonio Massarente. Seu Selviano formou-se em 54 como Técnico Agrícola e operado de máquina agrícola pesada. Nos tempos de JK, dentre seus vários trabalhos em épocas "desenvolvimentistas", operou o maquinário para a derrubada da mata na Bahia, onde a Odebrecht criava obras a seu próprio mando, quando o coronelismo acobertava uma simbiose aceitável para as épocas. Conta seu Selviano que ele mesmo executou a derrubada de mata para plantio de seringueiras na Bahia naquela época. Em 1964, ele troca a devastação pela Serra da Bocaina, já como servidor público, e troca a devastação pela admiração e preservação da natureza. Ele acompanhou de antemão os trabalhos de demarcação, levando os técnicos para aquela área de mata que viria a tornar-se Parque Nacional 3 anos após. Na subida da serra, me dei conta que estava com uma lenda viva do Parque. Ele tinha a história do parque deliciosamente fluindo enquanto pilotava sua Rural a diesel. Hoje vejo a garotada ingressando em faculdades de engenharia ambiental, cursos para técnico do meio-ambiente. Há quarenta anos atrás, só importava ao país crescer, e a idéia do infinito verde que pintava nossa bandeira, não tinha o peso de hoje. Seu Selviano viveu à época da grande reforma do Código Florestal brasileiro, o mesmo que hoje os ruralistas bombardeiam no congresso. Ele mesmo me disse que soube, ao aposentar-se após 30 anos de serviço para o estado e depois de ganhar uma medalha de honra pelos serviços públicos, que seu cargo era ultimamente o de "especialista em Meio-Ambiente". Não é um cargo, é um título de conhecimento alcaçado. Na volta, quando seu Selviano contava sobre os causos vividos como guarda do parque, observei o sobrenome de seu gerente do parque com quem trabalhou muitos anos e ao qual era grato: Mario Augusto Bernardes Rondon, sobrinho-neto do Marechal.
Após o último ciclo, em 1971 os militares oficializam a concepção do Parque
Nacional da Serra da Bocaina, por questões de segurança nacional: a proibição de população e a serra como um grande muro foram idealizados como proteção a um possível acidente nuclear com as usinas Angra I e II, localizadas em Angra dos Reis. O Brasil ganhou assim a maior unidade de conservação da Mata Atlântica do país.
O último ciclo, o do carvão, alimentou os fornos da CSN em Volta Redonda, e foi o mote que trouxe o atrativo econômico à família Moutella instalar a casa onde nos refugiamos. Lá pelos idos de 48, Seu Ademar Soares Costa possuía morada e comércio na cidade, e produção de carvão na Serra. No seu auge na década de 50, 50 mulas faziam a logística do carvão que saía das matas. A própria Cris nos contou várias histórias de sua infância, quando lembrava divertir-se naquele ambiente enquanto suas irmãs mais velhas cozinhavam para alimentar a tropa de carvoeiros que lá trabalhavam, e seus irmãos ajudavam na lida. Ela hoje é o próprio símbolo da transformação da nossa sociedade através do conhecimento adquirido: sua causa é ambiental e trabalha em várias frentes pela Fundação SOS Mata Atlântica. Com orgulho, nos mostrava o capão de Araucárias que formou-se após o plantio da primeira por seu avô e o resultado de toda uma frente de morro hoje com floresta, onde 40 anos atrás encontrava-se uma área devastada. Sua mãe, que era jardineira, deixou uma herança de plantio nessa casa onde nos refugiamos... ainda estão ali uma laranjeira e limoeiro-rosa, além da roseira e orquídeas endêmicas que em vida foram tão apreciadas.
Embarcamos na Toyota do Seu Selviano, numa estrada que foi ficando cada vez mais fechada, sentindo o frio com neblina da montanha, atravessando riachos e discutindo quais seriam as vocações econômicas daquele povo: qual seria o próximo ciclo a salvar a cidade de 5.000 habitantes? Ecoturismo? Exploração sustentável da biodiversidade? Enquanto discutíamos, nossa corpo sentia na pele o que quer dizer mata ombrófila (que gosta de água) densa de altitude... que frioooo (brrrrrr!!!).

Após passarmos pela garita de entrada do Parque Nacional, onde foram checadas nossas permissões, chegamos à casa do caseiro Cesar, responsável pela Fazenda dos Lutz. Na pequena casinha encravada numa clareira da mata, uma placa anuncia: Fazenda Capão Bonito do Rio de Baixo. Fiquei interessado em fotografar os painéis fotovoltaicos instalados no telhado da casinha, para permitir 4 horas de televisão por dia. Também, é necessário algum atrativo pra fixar um caseiro nestes confins.
Preparamos o burrinho que levaria nossas coisas, o Moleque, e a mula que levaria... bom, ninguém quis se anotar, então, vou eu, afinal, mais uma aventura pro curriculum.

E lá estava eu cavalgando a Laura, por uma trilha enlameada pelo meio da mata. Enquanto conversava com o Cesar pra entender o que era viver ali e um pouco das histórias da região, meus olhos se deslumbravam com os mirantes que se abriam entre nossa conversa.
Nossa casa perfeita pra um fim de semana em contato com a mata: Fogão a lenha, água quente pro banho, água de nascentes, colchão e os principais atrativos: muito espaço pra pernear e fotografar, e nada de energia elétrica!!!
Nos dias que passamos lá, além da paz de espírito e a plenitude do isolamento, a mata nos deu muitos presentes. Talvez o mais simbólico para o grupo foi o ballet de um Tyrannus savana (tesoura), que apareceu dois dias seguidos, ao final da tarde, numa dança aérea de 5 minutos bem à frente do umbral da casa, antes de retirar-se para dormir na mata. Como eramos os únicos a presenciar aquele presente, sentimos nos todos interligados e agraciados por ter ido visitar esta mágico lugar.
Diria que foi um bonito interlúdio nesse corre-corre que nos cerca na capital bandeirante, que logo lembramos ao encarar a rodovia em volta de feriado. Definitivamente, espero voltar lá mais de uma vez. Obrigado Cris.












































domingo, 6 de dezembro de 2009

Você sabe com quem está falando?


Minha grande amiga Lu me apresentou um dos novos pensadores brazucas: Mario Segio Cortella, filósofo, mestre e doutor em Educação pela PUC-SP, onde é professor do Departamento de Teologia e Ciências da Religião e da Pós-Graduação em Educação. Me mostrou um artigo de seu último livro "Qual é a tua obra? Inquietações propositivas sobre gestão, liderança e ética.", de 2007. O título do artigo é "E tem gente que se acha", que eu achei simplesmente ótimo pela síntese das últimas novidades sobre a concepção do universo e o nosso papel no mesmo. Depois de lê-lo, não consigo dissociar a pergunta do título deste post com a resposta: Você tem tempo?
Boa semana a todos!

"Quando se pensa e se faz trabalho como obra poética em vez de sofrimento contumaz, sempre vem à mente a questão do “trabalho digno”, isto é, aqueles ou aquelas que se consideram superiores como seres humanos apenas porque tem um emprego socialmente mais valorizado.
Aliás, é sempre nesses casos que entra em cena o famoso “sabe com quem você está falando?”
Um dia procurei representar uma possível resposta científica a essa arrogante pergunta e, de forma sintética, registrei essa representação em um livro meu chamado A escola e o conhecimento (Cortez); agora, de forma mais extensa e coloquial, aqui vai esse relato, partindo do nosso lugar maior, o universo, até chegar até nós.
Hoje, em física quântica, não se fala mais um universo, mas um multiverso. A suposição de que exista um único universo não tem mais lugar na Física. A ciência fala em multiverso e que estamos em um dos universos possíveis. Este tem provavelmente o formato cilíndrico, em função da curvatura do espaço, portanto, ele é finito e tem porta de saída, que são os buracos negros, por onde ele vai minando e se esvaziando. Até 2002, era quase certo que o nosso universo fosse cilíndrico, hoje já há alguma suspeita de que talvez não. Mas a teoria ainda não foi derrubada em sua totalidade. Supõe-se que este universo possível em que estamos apareceu há 15 bilhões de anos. Alguns falam em 13 bilhões, outros em 18, mas a hipótese menos implausível no momento é que estamos num universo que apareceu há 15 bilhões de anos, resultante de uma grande explosão, que o cientista inglês Fred Hoyle apelidou de big-bang, e esse nome pegou.
Qual é a lógica? Há 15 bilhões de anos, é como se se pegasse uma mola e fosse apertando, apertando até o limite, e se amarrasse com uma cordinha. Imagine o que tem ali de matéria concentrada e energia retida! Supostamente, nesse período, todo nosso universo estava em um único ponto adensado, como uma mola apertada e, então, alguém, alguma força – Deus, não sei, aqui a discussão é de outra natureza – cortou a cordinha. E aí, essa mola, o nosso universo, está em expansão até hoje. E haverá um momento em que ele chegará ao máximo da elasticidade e irá encolher outra vez. A ciência já calculou que o encolhimento acontecerá em 12 bilhões de anos. Fique tranqüilo, até lá você já estará aposentado pelas novas regras.
Você pode cogitar algo que a Física tem como teoria: ele vai encolher e se expandir outra vez. Talvez haja uma lei do universo em que o movimento da vida é expansão e encolhimento. Como é o nosso pulmão, como bate o nosso coração, com sístole e diástole. Como é o movimento do nosso sexo, que se expande e encolhe, seja o masculino seja o feminino. Parece que existe uma lógica nisso, que os orientais, especialmente os chineses e os indianos, capturaram em suas religiões, aquela coisa do inspirar e expirar. Parece haver uma lógica nisso, a ciência tem isso como hipótese.
Assim, há 15 bilhões de anos, houve uma grande explosão atômica, que gerou uma aceleração inacreditável de matéria e liberação de energia. Essa matéria se agregou formando o que nós, humanos, chamamos de estrelas e elas se juntaram, formando o que chamamos de galáxias (do grego galaktos , leite). A ciência calcula que existam em nosso universo aproximadamente 200 bilhões de Galáxias. Uma delas é a nossa, a Via Láctea, que é “leite”, em latim. Aliás, nem é uma galáxia tão grande; calcula-se que ela tenha cerca de 100 bilhões de estrelas. Portanto, estamos em uma galáxia, que é uma entre 200 bilhões de galáxias, num dos universos possíveis e que vai desaparecer.
Nessa nossa galáxia, repleta de estrelas, uma delas é o que agora chamam de estrela-anã, o Sol. Em volta dessa estrelinha giram algumas massas planetárias sem luz própria, nove ao todo, talvez oito (pela polêmica classificação em debate). A terceira delas, a partir do Sol, é a Terra. O que é a Terra?
A Terra é um planetinha que gira em torno de uma estrelinha, que é uma entre 100 bilhões de estrelas que compõem uma galáxia, que é uma entre outras 200 bilhões de galáxias num dos universos possíveis e que vai desaparecer. Veja como nós somos importantes…
Aliás, veja como nós temos razão de nos termos considerado na história o centro do universo. Tem gente que é tão humilde que acha que Deus fez tudo isso só para nós existirmos aqui. Isso é que é um Deus que entende da relação custo-benefício. Tem indivíduo que acha coisa pior, que Deus fez tudo isso só para esta pessoa existir. Com o dinheiro que carrega, com a cor da pele que tem, com a escola que freqüentou, com o sotaque que usa, com a religião que pratica.
Nesse lugarzinho tem uma coisa chamada vida. A ciência calcula que em nosso planeta haja mais de trinta milhões de espécie de vida, mas até agora só classificou por volta de três milhões de espécies. Uma delas é o homo sapiens. Que é uma entre três milhões de espécies já classificadas, que vive num planetinha que gira em torno de uma estrelinha, que é uma entre 100 bilhões de estrelas que compõem uma galáxia, que é uma entre outras 200 bilhões de galáxias num dos universos possíveis e que vai desaparecer?
Essa espécie tem [tinha], em 2007, aproximadamente 6,4 bilhões de indivíduos. Um deles é você.
Você é um entre 6,4 bilhões de indivíduos, pertencente a uma única espécie, entre outras três milhões de espécies já classificadas, que vive num planetinha, que gira em torno de uma estrelinha, que é uma entre 100 bilhões de estrelas que compõem uma galáxia, que é uma entre outras 200 bilhões de galáxias num dos universos possíveis e que vai desaparecer.
É por isso que todas as vezes na vida que alguém pergunta:”Você sabe com quem está falando?”, eu respondo: “Você tem tempo?”"
CORTELLA, Mario Sergio. Qual é a tua obra? Inquietações propositivas sobre gestão, liderança e ética. Petrópolis:Vozes, 2007, p. 23-27

sábado, 17 de outubro de 2009

MANIFESTO CONTRA O PROJETO QUE LIBERA A COMERCIALIZAÇÃO DE VEÍCULOS DE PASSEIO MOVIDOS A DIESEL

O Movimento Nossa São Paulo convida você a se manifestar contra o Projeto de Lei do Senado 656/2007, que libera a comercialização de veículos de passeio movidos a diesel no Brasil. Atualmente, o uso do combustível apenas em veículos pesados e utilitários é suficiente para matar 6 pessoas por dia, somente na capital paulista, e gerar custos de R$ 82,6 milhões com internações hospitalares pelo Sistema Único de Saúde (SUS), na Região Metropolitana de São Paulo. Não se trata simplesmente de uma manifestação contrária ao carro a diesel , mas, a favor da preservação ambiental e da saúde pública. Pois o projeto incentiva o uso do diesel de péssima qualidade disponível no país, além de permitir a ampliação da matriz energética proveniente do petróleo, para a qual já há alternativas menos nocivas à saúde das pessoas e do planeta, como o álcool, entre outras que encontram-se em desenvolvimento.

O projeto do senador Gerson Camata (PMDB-ES), que altera o art. 8º da Lei nº 9.478, de 6 de agosto de 1997, foi aprovado no dia 5 de agosto passado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado. O texto está sendo avaliado agora pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), em caráter terminativo. Caso não haja nenhum recurso contrário por parte dos senadores, o projeto irá para a Câmara, sem necessidade de ser votado no plenário do senado. Se os deputados aprovarem, a lei irá para sanção presidencial. O presidente da Comissão, Senador Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), designou o Senador Delcídio Amaral (PT-MS) para ser relator da matéria.

Para evitar mais mortes e internações, e também o aumento de emissões de gases que causam o aquecimento global, é importante que a sociedade se manifeste contrária ao projeto o mais rápido possível, enviando e-mail para os senadores, em especial ao relator do projeto – Senador Delcídio Amaral e também aos deputados federais. Anexos os e-mails dos senadores e deputados federais. Repasse também esta mensagem para sua rede de relacionamento. Veja também o anexo do histórico da tramitação do projeto. Segue abaixo a sugestão de carta aos senadores e deputados federais e links para outros documentos.

Sugestão de texto aos Senadores(as) e Deputados(as) Federais

Prezado(a) Senador(a) / Prezado(a) Deputado(a)

Solicito o seu apoio no sentido de se manifestar contrário à aprovação do Projeto de Lei do Senado 656/2007, que altera o artigo 8º da Lei 9.478, de 6 de agosto de 1997, para permitir a comercialização de veículos de passeio movidos a diesel

Se o referido projeto for realmente aprovado, a indústria automobilística ganhará o aval para incentivar o consumo do combustível que, sozinho, é responsável pela morte de pelo menos 6 pessoas todos os dias somente na cidade de São Paulo. A informação é da Faculdade de Medicina da USP, que vem alertando insistentemente para os perigos do ar contaminado para a saúde da população. Além disso, de acordo com o Dr. Paulo Saldiva, líder da equipe de pesquisadores da Faculdade de Medicina, o custo anual gerado pelas internações hospitalares decorrentes da poluição veicular para o Sistema Único de Saúde (SUS) é de R$ 82.627.646,00 somente na Região Metropolitana de São Paulo. Se somarmos o total das regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre e Recife as despesas chegam a R$ 129.497.569,00. Estima-se ainda que, levando em conta a perda de expectativa de vida, os custos ao ano na cidade de São Paulo são de US$ 208.884.940,00. Cerca de 40% deste custo é devido ao diesel.

Enquanto a grande maioria dos países no mundo busca alternativas para “descarbonizar” os combustíveis com o propósito de mitigar a emissão dos gases responsáveis pelo aquecimento global, o projeto de lei aponta para o outro lado, representando um retrocesso inexplicável.

Agradeço antecipadamente o seu empenho, em favor da vida e do bem-estar do povo brasileiro.

Atenciosamente,

[Nome da pessoa física e/ou organização]

Links para alguns documentos:

Lei 9.478, de 6 de agosto de 1977

http://www.aneel.gov.br/cedoc/blei19979478.pdf

Projeto de Lei do Senado 656/2007, que altera o artigo 8º da Lei 9.478, de 6 de agosto de 1997, para permitir a comercialização de veículos de passeio movido a diesel

http://legis.senado.gov.br/mate-pdf/11797.pdf


Íntegra da carta aberta enviada no dia 22 de setembro (Dia Mundial Sem Carro) ao Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Senadores e Ministros. A carta foi assinada pelas organizações Amigos da Terra – Amazônia Brasileira, Greenpeace, Instituto Akatu, Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor – IDEC, Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, Movimento Nossa São Paulo, SOS Mata Atlântica e a Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente de São Paulo.

http://www.nossasaopaulo.org.br/portal/arquivos/cartaLulaSenadores.pdf

Cordialmente,

Movimento Nossa São Paulo

domingo, 11 de outubro de 2009

MST e Cutrale - Comentando a Semana

As pressões sociais continuam subindo. Ainda mais num mundo onde, ha 2.000 anos atrás (ano zero, nascimento de Cristo aproximadamente) eramos apenas 3% da população atual (vide Contador de pessoas instalado aqui no canto direito do blog).
Mas algumas são tão deturpadas pela velocidade fantástica de nossas notícias, que somos obrigados a ver as versões possíveis da notícia e sair com a enésima, ou seja, a nossa versão. Que numa democracia significa uma enésima parte das razões que nos levam a votar em alguém, multiplicadas por um fator de passionabilidade determinado apenas por nossos corações.
Então, vou dar a MINHA visão resumida do fato desta semana:
O Fato pela Mídia: (G1.com.br)
Cerca de 250 famílias do Movimento dos Sem-Terra permanecem nesta terça-feira (6) em uma fazenda produtora de laranjas em Borebi, a 309 km de São Paulo. No local, os manifestantes destruíram a plantação com um trator. Mais de 5 mil pés de laranja foram destruídos.

As famílias querem forçar a desapropriação da área. A sede foi tomada pelos sem-terra, que fecharam a entrada e picharam a portaria.

Havia uma reintegração de posse determinada por um juiz local, mas ele voltou atrás e disse que o caso é de competência federal. A Justiça Federal ainda não se pronunciou. Os sem-terra continuam ocupando a fazenda e vão permanecer na área enquanto não sair a decisão da Justiça Federal.

Segundo o MST:(http://diariogauche.blogspot.com/2009/10/mst-nao-nos-julguem-pela-versao.html)
3. Também ocupamos as fazendas que têm origem na grilagem de terras públicas, como acontece, por exemplo, no Pontal do Paranapanema e em Iaras (empresa Cutrale), no Pará (Banco Opportunity) e no sul da Bahia (Veracel/Stora Enso). São áreas que pertencem à União e estão indevidamente apropriadas por grandes empresas, enquanto se alega que há falta de terras para assentar trabalhadores rurais sem terras.

4. Os inimigos da Reforma Agrária querem transformar os episódios que aconteceram na fazenda grilada pela Cutrale para criminalizar o MST, os movimentos sociais, impedir a Reforma Agrária e proteger os interesses do agronegócio e dos que controlam a terra.

Segundo o INCRA: http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u636365.shtml

O superintendente do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) em São Paulo, Raimundo Pires Silva, disse ontem que estão irregularmente em terras da União todos os proprietários e empresas com fazendas no antigo Núcleo de Colonização Monções.

A área, de 50 mil hectares, fica no centro-oeste do Estado, entre os municípios de Iaras, Borebi, Agudos, Lençóis Paulistas e Águas de Santa Bárbara.

Ali está a fazenda de 2.400 hectares da Cutrale invadida pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) na semana passada. Os sem-terra ficaram no local por dez dias, derrubaram pés de laranja e depredaram tratores, caminhões e imóveis da sede.

Segundo Silva, a região onde fica a fazenda foi comprada pela União em 1909 para instalar colonos. O projeto não vingou, e as áreas ficaram desocupadas, levando a um processo de ocupação irregular. O superintendente diz que o Incra, em 2003, foi condenado pela Justiça a implantar assentamentos no local. A partir daí foi feito um levantamento para identificar o histórico das terras. Os atuais ocupantes foram informados sobre a titularidade irregular.

"É um patrimônio público, pertence ao povo", disse Silva. Segundo ele, não foram verificados casos de falsificação de documentos e grilagem: as ocupações foram feitas de "boa-fé".

O Incra afirma que tentou acordo com as empresas. A Lwarcel Celulose reconheceu que sua terra era da União, propôs ficar ali e, em troca, deu ao órgão uma área em outra região. As empresas que chegaram a acordos são as únicas regularizadas, juntamente com descendentes dos antigos colonos do núcleo, segundo o Incra.

Na Justiça, há 50 processos questionando a posse das terras --entre eles o da Cutrale. Uma decisão da Justiça Federal entendeu que o órgão não tinha direito de reclamar a terra da multinacional, mas ainda não julgou se a propriedade é mesmo pública. O Incra recorreu.


Segundo a Cutrale: http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u636365.shtml
O diretor de relações institucionais da Cutrale, Carlos Otero, não quis polemizar: "Nosso foco agora é recuperar o que foi destruído." Ele descartou firmar um acordo com o Incra. Diz que a a Cutrale "é dona" da área e tem documentos.

Segundo eu mesmo, julgando e sentenciando:

1 - Cana para os mandantes da invasão de um espaço que, mesmo que venha a ser considerado da União, está produzindo divisas para a nação, empregos na colheita, na industrialização, na construção de máquinas agrícolas, na idústria de fertilizantes, na fábrica de óleos essenciais no Rio Grande do Norte, no escritório de várias empresas que comercializam derivados, nas Universidades que estão estudando os benefícios do D-Limoneno proveniente da Cutrale, enfim, uma cadeia de custódia interessante e muito maior que a puxada do Brasil Agrícola dos anos 60 com pouca tecnologia instalada.
2 - Para o Sr Raimundo Pires Silva, quer aparecer, pendure uma melancia no pescoço, como se dizia antigamente. Ou melhor, não brade em nome da justiça, algo que o INCRA resolveu investigar sobre 1909 em 2003. Porque não se aproveita e se divulgam (se é que se sabem) TODAS as maracutaias que se desenvolveram em 100 anos? Estamos falando de uma projeto de governo público que se deu em 1909? Quando o Afonso Pena ou Nilo Peçanha eram presidentes? E os escandalos agropecuários do nosso atual Renan Canalheiros? Será que estamos tão imaculados a ponto de revisitar nossa história dessa maneira e julgar 100 anos depois? Ao indivíduo, não se dá usucapião depois de 5 anos?
3 - Para a Cutrale, podem mostrar-nos os documentos que dão o direito a exploração destas terras?

sábado, 10 de outubro de 2009

The Fun Theory

Vivo pregando por aí: a realidade é uma só... as opções de encará-la é que são múltiplas. Encarar dificuldades de maneira apreensiva, com medo, estressado, desconfiado, certamente não possibilita que nossas maiores capacidades humanas sejam atingidas em prol de resolução dos nossos problemas diários. Então, nada como encarar tudo com sorriso, contando até 10... até 100 se for preciso. Porque as pessoas são muito mais abertas a uma atitude positiva que alguém com cara marruda. É um efeito em casacata. E assim criam se ambientes saudáveis... não aqueles climas tóxicos comuns onde as pessoas guardam seus interesses individuais e os mascaram por trás de cada ação.
Pra mostrar que a realidade pode sempre ser encarada de outra maneira e que as pessoas se contagiam toda a vez que o crú toma ares de sorriso, resolvi mostrar esta escada em Odenplan, Estocolmo.
A realidade é a mesma, só importa como a enxergamos e enfrentamos...

terça-feira, 28 de julho de 2009

Quedelhe a água?


A mais ou menos dois anos atrás, comecei a repensar de maneira profunda minha atividade profissional. Sentia uma necessidade de devolver à sociedade seu financiamento depositado através dos meus estudos de Engenharia Química numa Universidade Pública. E comecei a pensar em que segmentos meu conhecimento e habilidades teriam alguma relevância. Desse dia, saíram minhas áreas de interesse em atuar. E coloquei em primeiro lugar, num ranking de três, a área de conhecimento e recurso que a meu ver é o DNA da nossa diversidade.
Não é a toa que as pretensões de colonização extraterrestres da Nasa correm atrás da necessidade de uma constatação "vital": a existência de fontes de água, em qualquer estado físico. Esta pequena maravilha tri-atômica resultado da combinação de Oxigênio e Hidrogênio, carrega particularidades físico-químicas que permitem tecer a tênue linha da vida como ela é em nosso planeta. Seu comportamento anômalo, comparado a outras moléculas semelhantes como o sulfeto de Hidrogênio (H2S) da mesma família, permitiu fenômenos que foram altamente benéficos para o desenvolvimento da vida. Só pra citar um, o fato do gelo (seu estado sólido, só pra ressaltar) flutuar e não afundar, como seria de se prever por lógica, permitiu que durante a formação dos mares, uma capa protetora contra os raios ultravioletas viabilizasse o tempo e espaço para o desenvolvimento da vida no mar. Poderia ficar falando de várias e maravilhosas anomalias físico-químicas que permitiram o início de mecanismos de desenvolvimento na vida na Terra. Mas quero nesta resenha, dar um panorama rápido de como está nossa relação com este maravilhoso elemento.
Nossa dependência da água é transformada a aproximadamente 12.000 anos atrás, com a fixação do homem à terra, e início da agricultura. Em busca de alternativas energéticas, fomos obrigados, devido a uma seca de mais de 1.000 anos (Armas, Germes e Aço - Jared Diamond - 1997), a buscar outros alimentos que não oriundos da caça. O Homo sapiens começava de maneira sistemática a interferir na evolução genética dos seres vivos ao segregar e estimular o plantio de grãos que lhe traziam benefícios em sua dieta. O trigo e a cevada, presentes no Crescente Fértil, foram e ainda são os grãos que complementaram a nossa busca vitamínica e calórica. Criamos os pequenos e transformados ecossistemas que viriam a ser as pequenas plantações agrícolas e criadouros de suínos (M. Rosenberg - Un. Delaware). Em nossa iniciativa de domesticar plantas e animais, sentimos a óbvia necessidade de retirar do meio doses extras de água, acima da até então usada pra atender nossas necessidades metabólicas como indívíduos. Desde então até os dias de hoje, nosso consumo desse bem natural passou a ter um peso significativo no nosso meio de vida moderno. E está ligado intensamente à nossa produção de alimentos. Nossa distribuição de uso da água doce do planeta, segundo a ONU, é de 70% para a Agricultura, 20% para a Produção Industrial e 10% para consumo humano direto. E como já citei na minha outra resenha sobre a nossa sede energética que mantém nosso status moderno de civilização, há um novo concorrente nesta distribuição: a pressão dos biocombustíveis, na busca por fontes alternativas aos combustíveis fósseis.
Bom, não deveríamos preocuparnos, já que, apesar do nome por nós dado a este incrível planeta ser Terra, dois terços de sua superfície ser composta de água. Mas desses 1,6 bilhões de Km3, apenas 2,7% aproximadamente é água doce (OMS). Apenas 0,3% está disponível de maneira mais ou menos fácil pra uso, na forma de rios, lagos ou lençois subterrâneos de até 750 metros de profundidade. Com um forte agravante: estamos poluindo essa quantidade em tempos recordes. Nossa disponibilidade de água doce está diminuindo ao mesmo tempo que nossas necessidades por ela crescem exponencialmente junto à nossa explosão demográfica. O fenômeno do aquecimento global (independente do causador) traz mais uma incógnita a nossa capacidade de planejamento: mares inteiros de água doce estão neste momento evaporando e sendo carregados para longe de nossas expectativas de extração. Todo o ciclo hidrológico está vivendo um período de stress e as reservas estão sendo consumidas e não renovadas em suas fontes.
Segundo a OMS, dois quintos da população mundial não têm acesso ao saneamento básico, levando a epidemias em massa de doenças transmissíveis pela água. Metade dos leitos de hospitais do mundo está ocupada por pessoas com doenças propagadas pela água e de fácil prevenção segundo a própria entidade. A água contaminada é uma das causas de 80% de todas as enfermidades e doenças do mundo. Segundo Maude Barlow (Água, Pacto Azul, 2007, ed M Books, "na última década, o número de crianças mortas por diarréia ultrapassou o número de pessoas mortas em todos os conflitos armados DESDE a Segunda Guerra Mundial." A cada oito segundo, uma criança morre por beber água suja, e um bilhão de pessoas não tem acesso a água potável.
Essa disparidade não é democrática também. Segundo a OMS, o ser humano necessita de 50 litros/dia/hab para beber, cozinhar e fazer sua higiene. O norte-americano usa quase 600 litros/dia. O africano, 6 litros/dia. As fracas políticas públicas dos países em desenvolvimento também mostra seus pífios resultados: apenas 2% da água residual da América Latina recebe algum tratamento, e mais de 700 milhões de indianos não têm saneamento básico adequado. Na China, 80% dos principais rios estão em tal estado de degeneração que não apresentam mais condições para a vida aqúatica, e 90% de todas as águas subterrâneas sob as principais cidades está contaminado. Dos 25 países do mundo com a pior "oferta" de água limpa, 19 são africanos. Por conta desse panorama, milhares de angolanos morreram de uma epidemia de cólera em 2006.
Nesse pintura do holocausto, há os que apostem em soluções tecnológicas como a dessalinização por exemplo. Há de se colocar na conta das soluções, o dispêndio energético para que soluções como essas sejam minimamente viáveis. Existe o custo entrópico para que a Osmose Reversa aconteça e transforme agua salgada em água doce. Isso custa muitos mais dólares/m3 que os métodos mais convencionais usados por enquanto. Além disso, deve ser somados os custos da distribuição e manutenção das redes. Lembro-me de ter participado de uma apresentação da Suez em 2002, mostrando os resultados da priovatização das Águas de Manaus em seus 2 anos de operação. Seu maior desafio: reverter a quantidade de "gatos" no sistema de abastecimento. Era algo impressionante a quantidade de canos que retiravam água da principal adutora: o conflito social com a multinacional francesa estava escancarado. Apesar de hoje pertencer ao grupo Solvi, dissidentes da antiga Suez aqui no Brasil, ficou claro que as soluções neoliberais de mercado auto-regulatório, não foram suficientes sem o avanço de políticas públicas.
O desafio é imenso, o plano das nações em conjunto com a ONU é fraco. Os resultados são os mostrados. Desse jeito, não haverá explendor tecnológico: poderemos sucumbir antes de nossos antropocêntricos desejos de civilização por tratarmos o primeiro e mais precioso dos bens da vida como uma commodity inesgotável.

(Foto: Lynn Johnson)

segunda-feira, 27 de julho de 2009

O mundo nunca mais será o mesmo

A história de nosso grupo hominídeo, o Homo sapiens, começa entre 250 e 200 mil anos atrás, no Paleolítico inferior . As fontes de estudo ainda nos dão esta "pequena" margem de 50 mil anos de imprecisão. Convenhamos que com 50 mil anos e nossos neurônios, seríamos capazes de realizar muitas coisas. Mas na pré-infância de nossa humanidade, nossa relação com a natureza e a termodinâmica era muito diferente da atual (Arqueologia das Primeiras Culturas, John Gowlet,p 60). Como caçadores-coletores, dependíamos quase que exclusivamente da energia dos nossos músculos, auxiliados por ferramentas de pedra que herdamos intelectualmente de nossos parentes ancestrais Australopithecus, que surgiram a aproximadamente 2,5 milhões de anos atrás, no início do Paleolítico (K. Kris Hirst, Archaeology Guide). Nossa condição de sobrevivência se refletiu no número de indivíduos ao longo do tempo. Mas não quero me ater, nesta discussão, aos processos evolutivos da nossa espécie, num emaranhado de explicações antropológicas. Meu desafio aqui é traçar um paralelo entre nossa relação de crescimento demográfico e domínio das fontes energéticas. E para isso, vou simplificar nossa pacata coexistência com os recursos presentes na natureza, nosso modo de vida baseado na caça e coleta dos últimos 100.000 anos e nosso avanço energético a 12.000 anos atrás, berço de nossa civilização.
Nosso modo de vida é radicalmente transformado a aproximadamente 12.000 anos atrás, quando passamos de nômades caçadores-coletores a sedentários agricultores suíno-pecuaristas. Isso não se deu ao acaso e nem por lógica. Segundo Jared Diamond (Guns, Germs, and Steel: The Fates of Human Societies- 1997), uma provável e terrível seca de mais de 1.000 anos, no Crescente Fértil (atual Iraque), forçou as tribos caçadoras a buscar alternativas "energéticas" alimentares em meio a uma escassez de animais e plantas. Isso nos forçou ao advento da agricultura. Primeiramente plantando como complemento à caça, e num segundo momento, fixando-nos à terra e domesticando mamíferos pra nossa alimentação (suínos, segundo o arqueologista Dr. Michael Rosenberg da Universidade de Delaware). Os primórdios de nossa agricultura embasaram-se em nossa força e ferramentas, e logo, lançamos mão da força animal com o gado e cavalo domesticados (Saltini Antonio, Storia delle Scienze Agrarie, 4 voll., Bologna 1984-89).Nossa relação com a disponibilidade energética se multiplicou, e conseguimos uma maior eficiência na produção de alimentos, o que nos permitiu a organização em castas e uma explosão demográfica contínua e ininterrupta. Seguem-se as grandes civilizações, que ainda assim, embasavam seu modelo produtivo em uma matriz energética animal-escravocrata. Apesar de fontes alternativas como a madeira terem sido utilizadas para a produção de energia e produção de bens, de maneira sistemática durante toda a nossa história, nossa matriz energética não teve mudanças profundas até o advento dos combustíveis fósseis nos primórdios da revolução industrial. Segundo David Price, em 1995, "a energia extrasomática usada pelas pessoas por todo o mundo representa o trabalho de cerca de 280 mil milhões de homens. Ou seja, é como se cada homem, cada mulher, e cada criança em todo o mundo tivessem 50 escravos. Numa sociedade tecnológica, como os Estados Unidos, cada pessoa tem mais de 200 desses tais 'escravos fantasma'.".
Para fazermos um paralelo entre o nosso sucesso em termos de indivíduos e sua associação à disponibilidade energética, vou citar um ponto de referência na nossa pré-história. Segundo Stephen Oppenheimer (Out of Eden / the Real Eve - 2003), uma super erupção vulcânica do Monte Toba, Sumatra, a aproximadamente 74.000 anos atrás, teria causado um inverno nuclear de mil anos, cobrindo a India e Paquistão com uma camada de 5 metros de cinzas. Esse evento teria reduzido dramaticamente nosso grupo humano a apenas 10.000 adultos. Levaríamos o curso restante da nossa pré-história e mais 2.000 anos da nossa história, para alcançarmos uma população mundial de aproximadamente 5 milhões, no início da agricultura, e 200 a 300 milhões de indivíduos (David Price - Energia e Evolução Humana - 1995) próximo ao nascimento de Cristo, no ano zero. Um número significativo, porém árduo: de 10.000 a 200-300 milhões de seres vivos em 72 mil anos, mas com uma clara explosão demográfica em 8 mil anos. Levamos mais 1650 anos para duplicarmos a população para 500 milhões de habitantes, através de nossa organização social, tecnologias e resistência a doenças. Mas é com o advento do combustível fóssil que a sorte deste grupo dá uma guinada evolutiva. Em 1800, apenas 150 anos após, chegamos à marca de 1 bilhão de habitantes. E em 1930, 130 anos passados, duplicamos de novo. Trinta anos após, em 1960, éramos 3 bilhões.
Nasci em 72. O mundo já havia se enfrentado duas vezes em grandes guerras. Nosso sistema político, tornado-se complexo. Nossa maneira de gerar riqueza, funcionando a todo o vapor, criando a nova e moderna religião econômica. Campos da ciência explodiam em conhecimento, saúde, genética, robótica, astronomia. No ano em que nasci, já éramos 3,8 bilhões (UN report data - 2004). A riqueza associada a nosso sucesso nos trouxe maiores expectativas de vida. Mas toda essa opulência tecnológica tinha um sócio vitalício: a energia. Não é a toa que várias correntes científicas defendem o cunho, estamos vivendo a era energética. Nossa matriz energética atual é basicamente composta de combustíveis fósseis. Os combustíveis fósseis são basicamente, o resultado da captura energética solar, em todo o seu ciclo da pirâmide alimentar, guardado nas profundezas do nosso planeta, como resultado da transformação da energia contida nos fótons em hidrocarbonetos. Na nossa adolescência energética, a 300 anos atrás, abrimos a caixa de Pandora e descobrimos a energia barata e abundante. Aprendemos a coletá-la, transmiti-la e armazená-la de diversas formas para que a utilizássemos como nos conviesse. Chegamos, através disso, a aurora genética. Nosso domínio da energia, produção de alimentos e geração de riqueza nos trouxe até aqui. Somando-se todos os cientistas da humanidade em nossa história até o início do século XX, não são páreos os números para a quantidade de cientistas vivos produzindo conhecimento neste instante.Os números não mentem, no transcorrer destes meus 37 anos vividos em nosso planeta, assisti e continuo vivenciando os sucessos e desafios decorrentes deles: já somamos 6.774.020.072 humanos segundo a ONG CountTheWorld. Quase 3 bilhões a mais desde que nasci ou quase o dobro. Nunca na nossa história tivemos um patamar parecido. Nunca também multiplicamos exponencialmente nesta velocidade nossa necessidade de manter a razão energética por habitante e conseguir recursos naturais para manter nossa fome egocêntrica. Aonde esta curva nos levará? Senão a um colapso ou uma política de danos aceitável, Raymond Kurzweil, inventor e futurista norte-americano renomável, dá as nuances de nossa pintura em seu livro “Fantastic Voyage: Live Long Enough to Live Forever”: nos próximos 20 a 50 anos, nosso mundo verá transformações significativas, como as do século XX inteiro, acontecerem 32 vezes. Pois é, quem viver, verá.